
Imagine ter uma dor insuportável, procurar ajuda médica de emergência e, em vez de receber atendimento imediato, ser vítima de uma sucessão de adiamentos que resultam na perda permanente de um órgão. Foi exatamente isso que aconteceu com uma paciente em Natal - e a Justiça acabou de dar um veredito que serve como alerta para todo o sistema de saúde.
O caso, que parece saído de um pesadelo burocrático, começou quando a mulher deu entrada no hospital com fortes dores abdominais. Os médicos identificaram rapidamente um cisto no ovário direito que exigia intervenção cirúrgica imediata. Mas é aí que a coisa descarrilha feio.
Em vez de operar, o hospital marcou a cirurgia para dias depois. E depois adiou de novo. E mais uma vez. Quando finalmente realizaram o procedimento - pasmem - já era tarde demais. O ovário direito havia necrosado completamente e precisou ser removido.
O preço da negligência
A 2ª Vara Cível de Natal não teve dúvidas: condenou o hospital a pagar R$ 30 mil em indenização por danos morais. Na sentença, a juíza foi categórica ao afirmar que o estabelecimento de saúde falhou redondamente em seu dever básico de prestar assistência adequada.
O que mais choca nessa história toda é que estamos falando de uma situação que qualquer estudante de medicina sabe ser urgente. Cistos ovarianos complicados não são brincadeira - evoluem rápido e as consequências podem ser irreversíveis. Como que um hospital deixa uma paciente esperando até um órgão literalmente morrer?
"A demora injustificada caracteriza descumprimento do dever de cuidado", anotou a magistrada na decisão. E como! A paciente não só perdeu um órgão importante do sistema reprodutivo como ainda teve que conviver com sequelas físicas e emocionais que, convenhamos, nenhuma indenização vai apagar completamente.
Além dos R$ 30 mil
O valor da indenização segue a tabela do TJRN para danos morais de média intensidade, mas qualquer mulher que já passou por problemas de saúde reprodutiva sabe: algumas perdas não têm preço. O ovário não é apenas um órgão - é parte fundamental da identidade feminina, da saúde hormonal e da capacidade reprodutiva.
O caso levanta questões importantes sobre como nossos hospitais estão tratando emergências ginecológicas. Será que se fosse uma emergência cardíaca teriam adiado assim? É difícil não pensar que questões de saúde feminina ainda não recebem a urgência que merecem.
Para as autoridades de saúde do RN, o caso deveria servir como um alerta vermelho. Negligência médica não é apenas um erro profissional - é uma violência que deixa marcas permanentes nas pacientes. E dessa vez, ao menos, a Justiça reconheceu isso.