
Foi como se o mundo tivesse parado. Tati Machado, aquela mulher sempre sorridente das manhãs de TV, agora enfrentava o pior pesadelo de qualquer mãe. Dois anos se passaram desde que Rael, seu único filho, partiu num acidente que chocou o Brasil. E pela primeira vez, ela resolveu falar.
"A gente acha que sabe o que é dor até a vida te mostrar o abismo", solta, com a voz embargada, durante a conversa no jardim de sua casa em São Paulo. Os olhos vermelhos denunciavam noites mal dormidas, mas havia ali uma força que surpreendia.
O dia que mudou tudo
27 de julho de 2023. A data está gravada a fogo na memória da apresentadora. Rael, então com 18 anos, estava de férias na Bahia quando um deslize nas pedras da Praia do Forte terminou em tragédia. "Recebi a ligação que nenhuma mãe deveria receber", lembra, apertando as mãos como se buscasse algo para se segurar.
O que veio depois foram meses num "túnel escuro", como ela mesma define. "Acordar era um suplício. Respirar doía. As pessoas diziam 'o tempo cura', mas eu queria gritar que não era bem assim."
O luto que ninguém vê
Voltar à TV foi como "andar sobre vidros". Por trás da maquiagem impecável, Tati confessou que chorava nos intervalos. "Tinha dias que o estúdio girava, eu via tudo embaçado. Mas o show precisava continuar - literalmente."
Foi a terapia, os amigos e um projeto inusitado que a mantiveram de pé. "Comecei a plantar. Cada muda era uma promessa de vida. Quando via as primeiras flores brotando, sentia que Rael estava ali, de algum jeito."
O tabu da morte no Brasil
"Por que temos tanto medo de falar sobre perda?", questiona Tati, acariciando a corrente com o nome do filho que nunca tira do pescoço. Ela critica a forma como a sociedade lida com o luto: "Ou te jogam um 'supere logo' ou te tratam como se você tivesse uma doença contagiosa".
Seu conselho para quem passa por dor semelhante? "Deixe a ferida respirar. Não tape com falsos sorrisos. A saudade vai ficar, mas você aprende a carregá-la sem que ela te esmague."
No fim da conversa, já com o sol se pondo, Tati revela o que mais dói: "As pequenas coisas. O cheiro do protetor solar que ele usava. A porta do quarto que não range mais. O silêncio no banco do carro onde ele sempre reclamava da minha música."
Mas há luz, garante. "Rael me ensinou que o amor não morre. E essa é a única verdade que importa."