
Era uma daquelas tardes quentes de domingo, com cheiro de bolo no forno e café fresquinho, quando João e Maria — não, não é conto de fadas — resolveram fazer algo que muita gente só pensa, mas poucos colocam em prática. Depois de uma vida inteira sendo criados pelos avós, os dois irmãos, agora adultos, transformaram gratidão em ação.
"A gente cresceu vendo eles abrirem mão de tudo pela gente", conta João, com a voz embargada. "Era sapato furado pra gente ter material escolar, almoço simples pra sobrar dinheiro pro nosso uniforme."
O começo de tudo
Dona Francisca, 78 anos, lembra como se fosse ontem do dia em que os netos chegaram pra ficar. "Minha filha tava passando por dificuldades, aí eu disse: 'Deixa que a vó resolve'." E resolveu mesmo — com colo quente, histórias antes de dormir e, quando o dinheiro apertava, criatividade que só avó tem.
Maria ri ao lembrar: "Minha festa de 15 anos foi no salão da igreja, com bolo feito pela vó e fotos tiradas pelo tio. Mas foi a melhor festa do mundo".
A virada
Anos se passaram. João virou encanador, Maria trabalha como professora. E aí veio a pandemia — aquela fase que escancarou tanto amor quanto dificuldade. "A gente viu eles ficando mais frágeis", explica Maria. "O quintal que era imenso quando a gente era criança, tava difícil de cuidar. A casa precisando de reforma..."
Foi quando os irmãos tiveram a ideia. Juntaram economias, pegaram empréstimo (sim, aquele que dói no bolso) e transformaram a casa dos avós. "Botamos piso antiderrapante, reformamos o banheiro, fizemos uma varanda coberta...", enumera João, orgulhoso.
Mas o melhor veio depois: "Quando a vó viu tudo pronto, chorou igual criança. Disse que não merecia. Aí eu falei: 'Vó, você merece o mundo inteiro'."
O que ficou
Dona Francisca, hoje com netos adultos que "fizeram mais do que deviam", tem uma filosofia simples: "Amor de vó é assim — a gente dá sem esperar nada. Mas quando vem de volta... ah, meu filho, parece milagre".
Enquanto isso, na casa reformada, o cheiro de café continua — agora com biscoitos que Maria traz toda semana. E os vizinhos? Esses não param de comentar: "É coisa linda de se ver, essa família".