
Não é de hoje que observamos um fenômeno curioso — e, vamos combinar, bastante preocupante — na política brasileira. Governos que se mostram autoritários, aqueles que gostam de mandar e desmandar, parecem ter um trunfo sempre à mão: o nome de Deus.
Quem faz essa análise afiada é justamente alguém que entende de narrativas. O escritor vencedor do Prêmio Jabuti, um dos mais importantes da literatura nacional, soltou o verbo em entrevista recente. E olha, ele não economizou nas palavras.
A fé como instrumento de poder
Pensa bem: quantas vezes você já não viu um político, daqueles que adoram um autoritarismo, citando o nome divino em seus discursos? Parece até fórmula pronta — e talvez seja mesmo. O autor premiado vai direto ao ponto: "Todo governo prepotente usa Deus no discurso".
É como se fosse uma espécie de manual não escrito. Quando falta argumento, quando a razão não convence, lá vem a apelação religiosa. E o pior — funciona. A população, majoritariamente religiosa, muitas vezes acaba engolindo certas arbitrariedades quando vem embaladas num pacote que inclui o nome sagrado.
O perigo da manipulação
O que mais preocupa nisso tudo — e aqui eu concordo plenamente com o escritor — é a banalização do sagrado. A fé, que deveria ser algo puro, transforma-se em moeda de troca política. Vira instrumento de manipulação das massas.
E não me venham dizer que é coincidência. A história está aí para provar. Basta olhar para regimes autoritários pelo mundo afora — muitos deles usaram e abusaram do discurso religioso para se manter no poder. É uma estratégia velha, mas que continua surtindo efeito.
O autor do Jabuti, com a sensibilidade de quem trabalha com palavras, percebeu esse padrão. E teve a coragem de apontar. Num país como o Brasil, onde a religião tem peso significativo, esse alerta soa quase como um serviço de utilidade pública.
Literatura como resistência
Não é à toa que o prêmio Jabuti reconheceu justamente um autor que consegue enxergar além das aparências. A literatura tem esse papel fundamental — de desvendar o que está por trás dos discursos prontos, das falas ensaiadas.
Enquanto muitos se contentam com a superfície, o escritor vai fundo. Escava até encontrar a verdade — ainda que ela seja desconfortável. E convenhamos: a relação entre autoritarismo e uso instrumental da religião é mais do que desconfortável. É perigosa.
O que me faz pensar: será que estamos tão distraídos que não percebemos quando estão usando nossa fé contra nós? O autor do Jabuti parece acreditar que sim. E seu prêmio, nesse contexto, ganha um significado especial — quase um ato de resistência.
Um alerta necessário
No fim das contas, a mensagem do escritor premiado serve como um sinal de alerta. Precisamos ficar atentos quando líderes políticos começam a usar Deus como argumento. Desconfiar quando a fé vira justificativa para medidas autoritárias.
Porque, vamos combinar, governos realmente comprometidos com o bem comum não precisam ficar se escorando no nome divino. Suas ações falam por si — e falam mais alto que qualquer discurso vazio.
Fica o recado — e que recado! — de um dos nossos maiores escritores. Para refletirmos, questionarmos e, principalmente, não deixarmos que manipulem aquilo que temos de mais sagrado: nossa fé.