
E então, de repente, estamos aqui. O Conselho Federal de Medicina (CFM) — sim, aquele que dita as regras do jogo — resolveu dar um passo ousado. Aprovou o uso da ozonioterapia. Mas não é para qualquer coisa, não. A autorização, publicada no Diário Oficial da União, é específica: apenas na área de medicina estética. E olha, o assunto não é pouco controverso.
Parece que a ciência, nesse caso, está um pouco de malas prontas. As evidências que sustentam a eficácia do tratamento? Frágeis. Muito frágeis. A própria resolução do CFM admite, com todas as letras, que não há robustez científica suficiente para avalizar a prática de forma ampla. Mas, mesmo assim, seguiram em frente. Por quê?
O que dizem os críticos?
Ah, a comunidade científica não ficou nada feliz. Para muitos, a decisão soa como um “dever de casa” pela metade. O Conselho Nacional de Saúde (CNS) já havia dado um puxão de orelha, alertando que a ozonioterapia ainda não possui respaldo em revisões sistemáticas ou diretrizes clínicas consolidadas. Ou seja: é como construir uma casa sem alicerce.
E não para por aí. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também não aprovou o ozônio como medicamento. Zero registros. Nada. A substância é autorizada apenas como produto sanitário — o que, convenhamos, é bem diferente de ser um tratamento médico de verdade.
E os defensores? O que alegam?
Claro que tem quem comemore. Os profissionais que já utilizam a técnica argumentam que a aprovação do CFM é um reconhecimento importante — ainda que limitado. Eles afirmam que a ozonioterapia pode ter efeitos benéficos, como melhora na oxigenação tecidual e ação anti-inflamatória. Mas será que isso basta?
A resolução, na prática, permite que médicos utilizem o método, desde que informem claramente aos pacientes sobre as incertezas científicas. É quase um “use por sua conta e risco”, mas com aval formal. Será que isso protege quem busca o tratamento?
E o paciente nessa história?
Imagina você, leitor, buscando um procedimento estético e se deparando com uma técnica aprovada, mas não comprovada. Soa estranho, né? Pois é. A decisão joga uma luz sobre um debate antigo: até que ponto a autonomia médica e a liberdade de escolha do paciente se sobrepõem à falta de evidências?
O CFM, é claro, impôs condições. Só pode aplicar quem for médico e tiver especialização ou residência na área. Mas e aí? Basta um curso para tornar seguro algo que a ciência ainda não abraçou?
Pensando bem, a história toda me lembra aquela febre dos óleos milagrosos — todo mundo fala, poucos realmente sabem. A diferença é que agora o CFM deu um aval. E isso, convenhamos, é no mínimo curioso.
Enquanto isso, do outro lado do balcão, pesquisadores seguram a testa. E a pergunta que fica é: será que a regulamentação veio antes da comprovação? Parece que sim.
E você, o que acha? Confiaria num tratamento assim?