Uma sessão histórica no Superior Tribunal Militar (STM) transformou-se em um campo de batalha verbal nesta terça-feira (4), após o presidente da corte, ministro Luis Salomão, apresentar um pedido de desculpas formal pela morte do jornalista Vladimir Herzog durante o regime militar.
Tensão e discordância entre ministros
O gesto do presidente do STM não foi recebido com unanimidade entre seus pares. O ministro José Coelho, em tom de confronto, questionou abertamente a iniciativa de Salomão, gerando um acalorado debate que expôs as profundas divisões ainda existentes no tribunal sobre como lidar com o passado autoritário do país.
"Não há como desfazer o que foi feito", argumentou Coelho durante a sessão, demonstrando resistência ao pedido de desculpas que considerou desnecessário décadas após os fatos.
Um marco na história da justiça militar
A iniciativa do ministro Salomão representa um momento significativo na trajetória do STM, marcando a primeira vez que um presidente da corte reconhece formalmente a responsabilidade da instituição na morte de Herzog, ocorrida em 1975 nas dependências do DOI-CODI em São Paulo.
O jornalista, que era diretor de jornalismo da TV Cultura, foi preso, torturado e assassinado pelos órgãos de repressão da ditadura militar, com as autoridades da época tentando caracterizar o caso como suicídio.
Repercussão além dos tribunais
O pedido de desculpas ocorre em um momento de intenso debate nacional sobre a memória e a verdade sobre os anos de chumbo. Enquanto familiares de vítimas e organizações de direitos humanos comemoram o gesto como um passo importante, setores conservadores demonstram resistência em revisitar este capítulo sombrio da história brasileira.
O episódio evidencia que, mesmo após décadas, as feridas da ditadura militar continuam abertas e capazes de gerar intensos debates no mais alto escalão do poder judiciário militar.