
Parece que foi ontem, mas o relógio não para. Faltando exatamente doze meses para as urnas decidirem os próximos governadores do país, a sensação que predomina nos bastidores é a de um terreno movediço. Algo como tentar montar um quebra-cabeça com peças de vários jogos diferentes. Nada se encaixa perfeitamente.
Os nomes que costumavam dominar as conversas — aqueles políticos de carreira longa e base sólida — já não causam o mesmo frisson. O eleitorado, ah, esse parece estar de malas prontas para surpreender. Cansado das mesmas promessas, dos mesmos discursos. A pergunta que paira no ar, sem resposta, é simples e direta: em quem confiar agora?
Os Estados em Suspense
De Norte a Sul, a melodia é parecida, mas cada estado compõe sua própria letra. Em São Paulo, a discussão sobre quem assume a vaga de Rodrigo Garcia no comando do PSDB é só a ponta do iceberg. O partido, que já foi uma fortaleza, hoje navega em águas turbulentas e sem um rumo muito claro. A direção estadual praticamente jogou a toalha e deixou a decisão nas mãos da cúpula nacional. Uma jogada arriscada, pra dizer o mínimo.
Já no Rio de Janeiro, a situação beira o surreal. Cláudio Castro, o governador em exercício, ainda não conseguiu a adesão total do seu próprio partido, o PL. É como se ele estivesse no comando do navio, mas parte da tripulação ainda questiona se ele é mesmo o capitão. Enquanto isso, o ex-presidente Bolsonaro — uma figura que ainda comanda olhares e influência — mantém um silêncio ensurdecedor sobre seu apoio. Alguém aí duvida que isso é estratégico?
Nordeste: Entre a Tradição e a Onda de Mudanças
Na Bahia, o PT se vê diante de um desafio inédito. Pela primeira vez em anos, a eleição para governador não terá Rui Costa como candidato. O partido agora precisa encontrar um nome que una a base e, ao mesmo tempo, não assuste os eleitores de centro. E convenhamos, não vai ser fácil. O clima é de cautela extrema.
Pernambuco vive seu próprio drama. Paulo Câmara, do PSB, deixou o governo e agora o partido precisa segurar as pontas sob o comando de Raquel Lyra. O problema? Ela não é do PSB. Governa com uma base de apoio que é, digamos, um arranjo frágil. Qualquer vento mais forte pode desfazer tudo. E olha que ventania não falta na política.
E não para por aí. No Ceará, o PDT tenta segurar a hegemonia de anos, mas a oposição chega cheia de gás. No Rio Grande do Norte, a sucessão parece um jogo de xadrez com peças que se movem sozinhas. E no Maranhão, a situação é tão complexa que até os mais experientes analistas evitam palpite.
O Xadrez das Coligações
Se tem uma coisa que define a política brasileira, é a arte das alianças. Só que agora, essa arte parece mais abstrata do que nunca. Os partidos hesitam. Esperam. Avaliam. Ninguém quer dar o primeiro passo com medo de dar um passo em falso.
Os prazos do calendário eleitoral se aproximam, a pressão aumenta, mas as definições… bem, essas ficam para depois. É um jogo de espera que testa os nervos de até mesmo os mais veteranos.
O que está claro, no fim das contas, é que o Brasil político de 2022 é um lugar muito diferente daquele de eleições passadas. As certezas foram embora. As lealdades, fluidas. E o voto? Esse parece mais soberano e imprevisível do que nunca.
Restam mais 365 dias. E algo me diz que cada um deles será longo, intenso e cheio de reviravoltas. Segurem-se, porque o ano que vem promete.