
O plenário do Supremo estava tenso, daqueles dias em que o ar parece carregado e até o som das cortinas soa diferente. De repente, um advogado solta uma palavra que fez meio mundo tirar o celular do bolso para procurar no Google: demover. Mas o que raios significa isso?
Não é todo dia que um verbo quase esquecido vira protagonista de um julgamento histórico. O termo apareceu quando a defesa de um dos investigados pelo suposto golpe de 2023 argumentou que não havia provas para... bem, para demover a presunção de inocência do acusado.
E na Língua Portuguesa, o que é isso?
Consultamos linguistas e especialistas – porque sim, essa palavra é tão rara que exigiu uma caçada por dicionários antigos. Demover significa basicamente convencer alguém a mudar de ideia, dissuadir, fazer com que abandone uma convicção ou intenção. É o oposto de mover, de incentivar.
No contexto jurídico, porém, ganha um peso dramático. A defesa não estava apenas pedindo para não condenarem seu cliente. Eles argumentavam que o Ministério Público não havia conseguido demovê-los da certeza de que ele era inocente. Uma nuance fina, porém crucial.
Por que isso importa tanto?
Parece joguinho de palavras, mas não é. Em processos penais, o ônus da prova sempre cabe à acusação. Se a defesa alega que a prova não foi suficiente para "demover" a presunção de inocência, está basicamente dizendo que a acusação falhou em cumprir seu papel fundamental.
O termo, embora pouco usado hoje, não é novo. Juristas antigos já o utilizavam, mas ele caiu em desuso com o tempo. Sua reaparição em um julgamento de tamanha magnitude fez muitos questionarem: foi estratégia ou pedantismo?
Nas redes sociais, o estrago estava feito
Enquanto os ministros do STF debatiam tecnicidades processuais, o Brasil do X (antigo Twitter) já tinha transformado #Demover em trending topic. Memes não faltaram – desde imagens de caminhões de mudança ("de-mover") até brincadeiras com o verbo no contexto de relacionamentos.
Mas além do humor, a discussão revelou algo preocupante: o abismo entre a linguagem jurídica e o cidadão comum. Quando termos tão específicos viram centrais em decisões que afetam a todos, a sensação de exclusão só aumenta.
O julgamento segue, é claro. E a palavra "demover" já garantiu seu lugar não só nos autos processuais, mas na história recente do país. Resta saber se o verbo raro será suficiente para... bem, para demover os ministros de suas convicções.
Uma coisa é certa: depois de hoje, poucos brasileiros vão esquecer essa palavrinha. E talvez isso seja, no fundo, o que mais importa.