
O clima nos círculos bolsonaristas não está nada bom—e a paciência parece estar se esgotando. A desconfiança em relação a Tarcísio Gomes de Freitas, ministro da Infraestrutura no governo Bolsonaro e atual governador de São Paulo, cresce a cada declaração ambígua, a cada recuo tático, a cada sinal de que talvez ele não esteja disposto a encarar de frente o Supremo Tribunal Federal.
Não é exagero dizer que a base mais fiel ao ex-presidente esperava outra postura. Esperava combatividade. Esperava o mesmo tom de confronto que marcou os anos de gestão anterior. Mas o que se vê, até agora, é um cálculo político muito mais cauteloso—quase diplomático—e isso está gerando um mal-estar generalizado.
O Jogo Duplo de Tarcísio?
Aliados próximos a Bolsonaro já vocalizam, ainda que a portas fechadas, que Tarcísio não tem sido tão incisivo quanto deveria. “Ele fala, mas não age”, comentou um deputado que preferiu não se identificar. “Faltam gestos concretos. Faltam atos.”
Há quem aponte que o governador paulista está numa encruzilhada delicada: de um lado, a pressão de uma base que quer bravatas e enfrentamento; do outro, a realidade institucional de quem comanda o estado mais rico do país e precisa, queira ou não, negociar com o Judiciário.
Mas será que é só estratégia? Ou será que Tarcísio realmente não comprou a ideia de uma guerra aberta contra o STF?
Os Sinais que Preocupam a Base
Nos últimos meses, pequenos gestos foram lidos como recuos. A maneira como ele evita criticar nominalmente ministros. A linguagem mais técnica e menos ideológica em entrevistas. A priorização de pautas estaduais—e não nacionais—em sua agenda pública.
Nada disso passa despercebido. Para muitos bolsonaristas, silêncio é cumplicidade. Moderacao é fraqueza.
E assim, a relação—que já foi de total alinhamento—começa a mostrar rachaduras. Será que Tarcísio está se distanciando para construir uma imagem mais moderada? A pergunta ecoa em grupos de WhatsApp, em reuniões partidárias, nos corredores do Congresso.
O Futuro da Oposição no Brasil
O impasse envolvendo Tarcísio reflete uma dúvida maior: como será a oposição nos próximos anos? Radicalizada como alguns querem? Ou institucional, como parecem preferir outros?
O governador de São Paulo, até aqui, parece inclinar-se para a segunda opção. E isso, claro, tem um custo. Se ele não mudar o tom, pode perder apoio crucial da base mais ideológica—aquela que vai às ruas, que defende bandeiras, que não abre mão do confronto.
Mas também pode, quem sabe, conquistar um eleitorado mais amplo. Menos radical. Mais interessado em gestão do que em guerra cultural.
Uma coisa é certa: o tempo não para. E a pressão sobre Tarcísio só vai aumentar.