
Eis que a política baiana resolveu dar uma de contador — e que contador generoso, diga-se de passagem. Na tarde desta quinta-feira, a Assembleia Legislativa da Bahia transformou-se no palco de uma daquelas votações que misturam alívio, controvérsia e muito, muito cálculo eleitoral.
O projeto que anistia dívidas de estados e municípios com a União até 2018, esse calo antigo de prefeitos e governadores, finalmente passou — e não foi sem suor. A sessão foi daquelas para ficar de olho: discursos inflamados, justificativas que iam do técnico ao emocional, e aquela clássica tensão entre o "fazer o certo" e o "fazer o popular".
E como é que ficou o placar? Dos 63 deputados estaduais, 39 abraçaram a proposta — uma maioria sólida, mas não unânime. Outros 17 preferiram dizer "não", e ainda houve quem se abstivesse ou simplesmente não aparecesse para a votação. Uma divisão que, convenhamos, não foi exatamente surpresa.
Quem ficou a favor?
Do governo para a oposição, a anistia encontrou eco em figuras como o líder do Governo, Adolfo Menezes (PSD), e em nomes pesados da base aliada — Robinson Almeida (PT), Marcelino Galo (PT), e Fátima Nunes (PT), por exemplo. Até oposicionistas, como o democrata Paulo Rangel (PP), surpreenderam e votaram "sim". Coerência ou conveniência? Eis a questão que fica no ar.
E quem bateu o pé contra?
Do outro lado, vozes como as de Sandro Régis (UNIÃO), Pastor Sargento Isidório (Avante) e Marcell Moraes (PV) argumentaram, com certa razão, que perdoar dívidas assim, de supetão, pode mandar um recado perigoso — o de que descumprir obrigações financeiras não terá consequência. "E a responsabilidade fiscal?", questionaram. Algo com que muitos economistas concordariam, quietinhos em seus cantos.
Não faltaram, claro, aqueles que simplesmente evitaram o voto. Três abstenções — entre elas a de Ivana Bastos (PSD) — e quatro ausências puras e simples. Na política, como na vida, às vezes ficar em cima do muro é uma estratégia.
O que isso significa na prática? Municípios e o estado respiram aliviados — ao menos por agora — com a remissão de débitos antigos. Mas a discussão sobre quem paga a conta, no fim das contas, segue viva. Porque alguém sempre paga.
Agora a bola está com o Congresso Nacional. E se tem uma coisa que a gente já sabe é que, quando o assunto é perdoar dívida, o debate está longe de terminar.