
Eis que o impensável ganha contornos de possibilidade. Nesta terça-feira (3), o Kremlin soltou uma daquelas declarações que fazem o mundo segurar a respiração por uns instantes. Vladimir Putin, através de seu porta-voz Dmitry Peskov, deixou claro que não foge de uma conversa franca com Volodymyr Zelensky.
Não é todo dia que se vê uma abertura dessas, ainda mais depois de tantos meses de hostilidades e discursos inflamados de ambos os lados. Mas calma — e isso é importante destacar — a coisa não é tão simples quanto parece.
Os Dois Lados da Moeda
De um lado, Moscou afirma que está "pronto para o diálogo". Soa quase como um suspiro de alívio, não? Só que do outro, a Rússia joga a responsabilidade toda para Kiev. Eles condicionam qualquer avanço a que a Ucrânia — pasmem — "aceite a realidade atual".
O que isso significa na prática? Bem, é aquela velha história: as tais "realidades no terreno", que nada mais são do que os territórios anexados pela Rússia desde 2014 e ampliados durante a invasão de 2022. Quer dizer, eles querem que a Ucrânia chegue à mesa de negociações já aceitando as perdas territoriais. Algo completamente rejeitado por Kiev, diga-se de passagem.
E tem mais. A Rússia insiste que qualquer conversa séria deve levar em conta o que chamam de "interesses legítimos" da população das regiões ocupadas. Conveniente, não?
O Outro Lado da Trincheira
Enquanto isso, do lado ucraniano, a resposta foi — surpresa zero — um redondo não. Um assessor de Zelensky foi direto ao ponto: qualquer negociação que parta do pressuposto de aceitação das anexações territoriais está completamente fora de cogitação.
Kiev não só rejeita a premissa russa como mantém firme sua posição de sempre: quer a integridade territorial de volta, com todas as terras ocupadas — incluindo Crimeia — devolvidas à soberania ucraniana.
E olha só que ironia: enquanto Putin fala em diálogo, as hostilidades no front continuam a todo vapor. Os combates seguem intensos, com ambos os lados trocando acusações sobre ataques e contra-ataques.
O Jogo das Cadeiras Musicais Geopolíticas
Analistas internacionais estão coçando a cabeça com essa súbita abertura russa. Alguns veem como manobra de relações públicas, tentando passar para a comunidade internacional a imagem de que são eles os interessados em paz. Outros especulam sobre possíveis pressões internas ou desgaste com o prolongamento do conflito.
Uma coisa é certa: a disposição para sentar à mesa existe — mas as condições iniciais são tão distantes que fazem o acordo parecer mais distante do que nunca.
O mundo observa. E espera. Enquanto isso, a vida — e a morte — continuam nos campos de batalha da Ucrânia.