
Eis que a Moldávia, aquele pequeno país espremido entre a Romênia e a Ucrânia que muita gente nem saberia localizar no mapa, resolveu fazer uma jogada de mestre. Num daqueles movimentos que podem mudar o xadrez geopolítico da Europa — e olha que o tabuleiro já está bem movimentado ultimamente —, o parlamento moldavo aprovou uma resolução que praticamente crava: o futuro é europeu.
Não foi uma decisão qualquer, longe disso. A tal resolução, aprovada com 54 votos a favor numa casa com 101 assentos, praticamente enterra um acordo de cooperação militar que vigorava com a Rússia desde 1995. Sim, três décadas de parceria indo por água abaixo. E o timing? Perfeito — ou terrível, dependendo de que lado você está.
O Pano de Fundo: Uma História Complicada
A Moldávia carrega nas costas um peso histórico que poucos países conseguem entender. Ex-república soviética, independente desde 1991, sempre viveu naquela corda bamba entre Ocidente e Oriente. A Transnístria, aquela faixa de terra no leste do país que se declara independente (com apoio russo, claro), funciona como uma espinha dorsal geopolítica — e uma dor de cabeça constante para o governo central.
Mas a presidente Maia Sandu, eleita em 2020 com promessas claras de aproximação com a Europa, parece determinada a cortar esse nó górdio de uma vez por todas. E ela não está sozinha nessa: a população, especialmente os mais jovens, tem mostrado apetite crescente pela integração europeia.
O Que Muda na Prática?
Bom, vamos aos detalhes suculentos:
- Fim da cooperação militar com Moscou: O acordo de 1995, que permitia treinamento conjunto e troca de informações, vai para o lixo da história
- Sinalização política clara: A Moldávia deixa de ser um país "neutro" no jogo entre Rússia e Ocidente
- Aceleração do processo de adesão à UE: As negociações, que já estavam em andamento, ganham urgência renovada
E tem mais — a resolução não é apenas simbólica. Ela autoriza o governo a tomar "todas as medidas necessárias" para proteger a soberania nacional. Num contexto em que a Rússia mantém cerca de 1.500 soldados na Transnístria, essa linguagem soa quase como um alerta.
E a Rússia? Como Reage?
Ah, essa é a pergunta de um milhão de dólares. O governo russo já vinha alertando sobre "consequências" caso a Moldávia seguisse esse caminho. Agora, com a decisão formalizada, Moscou se vê diante de um dilema: reagir com força e riskar outro front de tensão, ou engolir a seco mais uma derrota em sua esfera de influência?
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, já soltou a frase: "Estamos monitorando de perto". Traduzindo: não gostamos nada disso, mas ainda estamos decidindo como responder.
Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, os Estados Unidos e a União Europeia comemoram discretamente. A secretária de Estado americana já marcou visita para a próxima semana — coincidência? Duvido.
O Que Isso Significa para os Moldavos?
Para o cidadão comum de Chisinau, a capital moldava, as implicações são tanto imediatas quanto de longo prazo. De um lado, a perspectiva de fundos europeus, liberdade de movimento no continente e — quem sabe — até o euro no bolso um dia. Do outro, a incerteza sobre como a Rússia vai retaliar economicamente (lembram-se do gás natural?) e politicamente.
É uma aposta arriscada, sem dúvida. Mas parece que a Moldávia decidiu que o risco vale a pena. Como disse um deputado durante o debate parlamentar: "Chega de ficar em cima do muro. Ou somos europeus, ou não somos".
E assim, quase sem que o mundo percebesse, um pequeno país de 2,6 milhões de pessoas pode ter dado um dos passos mais importantes na reconfiguração do mapa político europeu deste século. Fiquem de olho — porque essa história está longe de acabar.