Chanceler alemão dispara alerta: paz sem liberdade na Ucrânia só alimentaria apetite de Putin
Lindner: paz sem liberdade na Ucrânia fortalece Putin

O cenário é mais complexo do que aparenta. Christian Lindner, homem forte das relações exteriores alemãs, soltou o verbo num tom que misturava realpolitik com alarme genuíno. A ideia de pressionar a Ucrânia a aceitar um acordo de paz que lhe custe território e, por tabela, sua soberania? Um erro catastrófico de cálculo.

Não se engane: para Lindner, uma solução dessas não traria estabilidade alguma. Pelo contrário. Seria basicamente como dar um suco de laranja fresquinho para quem está com sede de poder — no caso, Vladimir Putin. Fortaleceria o presidente russo, alimentaria sua máquina de guerra e, pior, mandaria uma mensagem devastadora para outros autocratas de plantão: a agressão, no fim das contas, compensa.

O aviso que ecoa além de Berlim

O recado do chanceler não foi dado num vácuo. Ele ecoa um debate fervoroso que divide não só a Europa, mas o próprio Ocidente. De um lado, vozes — algumas inesperadas — pregando negociações urgentes, mesmo que isso signifique concessions territoriais. Do outro, a convicção de que ceder agora é cavar a cova da segurança coletiva para as próximas décadas.

Lindner se jogou firme no segundo time. Sua fala, durante um evento que reuniu mentes brilhantes, foi uma machadada na retórica dos que pedem paz a qualquer preço. "Uma paz que não seja moldada pela própria Ucrânia", disparou ele, "não passaria de uma camisa de força dourada". A metáfora é forte e deliberately escolhida.

O perigo da normalização da força

O que realmente assusta os estrategistas, e Lindner deixou isso claro, é o precedente. Normalizar a anexação de territórios pela força bruta é abrir a porteira para um mundo onde a lei do mais forte reescreve as fronteiras. Um pesadelo geopolítico que achávamos enterrado no século XX.

O ministro foi além do óbvio. Ele conectou os pontos entre a resistência ucraniana e a própria segurança da Alemanha e da OTAN. Abandonar Kyiv, mesmo que por via indireta, é enfraquecer a própria arquitetura de defesa do bloco. É um jogo de xadrez onde sacrificar a rainha não leva ao xeque-mate, mas à rendição.

O tom foi de urgência, mas não de desespero. Lindner reaffirmou o compromisso alemão — e, por extensão, europeu — com o apoio militar e financeiro à Ucrânia. No fundo, sua mensagem era clara: a verdadeira paz não nasce da capitulação, e sim da capacidade de defender o próprio direito de existir. E isso, ora, tem um preço que o Ocidente ainda precisa estar disposto a pagar.