
Paris não foi cidade para turistas nesta quinta-feira. Longe disso. O que se viu pelas ruas foi um cenário de guerra urbana, com nuvens de gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral e jovens encapuzados enfrentando a polícia com uma fúria que lembra os tempos dos coletes amarelos. Tudo porque o governo de Emmanuel Macron insistiu em empurrar goela abaixo uma reforma da previdência que ninguém — absolutamente ninguém nas ruas — parece querer.
E não foi pouco gente. Segundo os sindicatos, mais de 750 mil pessoas foram às ruas em todo o país. Só na capital, eram 80 mil. Uma maré humana que parou o transporte, fechou escolas, cancelou voos e deixou o país praticamente de joelhos. Greve geral pra valer, daquelas que a França sabe fazer como poucos.
O estopim dos confrontos
Os ânimos já estavam escaldantes desde a manhã. Mas foi no final da tarde, por volta das 17h, que a coisa descambou de vez. Na Place d'Italie, um grupo de black blocs — aqueles manifestantes que vestem preto da cabeça aos pés — começou a quebrar tudo pela frente. Bancos, vitrines, paradas de ônibus. A resposta policial foi imediata, e brutal.
De repente, o ar ficou irrespirável. Gás lacrimogêneo por todo lado. A polícia de choque avançou com cassetetes e escudos, enquanto os manifestantes respondiam com pedras, garrafas e até foguetes. Um verdadeiro campo de batalha no coração de uma das cidades mais bonitas do mundo. Que ironia, não?
Balancete de um dia quente
- Mais de 310 pessoas detidas em todo o país
- Pelo menos 123 policiais feridos — alguns com queimaduras de fogos de artifício
- Incêndios em caixas de eletricidade e veículos públicos
- Estações de metrô fechadas, comícios cancelados, cidade em estado de sítio
E olha que isso é só o começo. Os sindicatos já avisaram: não vão recuar. A reforma eleva a idade mínima de aposentadoria de 62 para 64 anos, e pra quem trabalha duro a vida inteira, isso é uma facada. O governo fala em "necessidade econômica", o povo grita por justiça social. Alguém aí vai ceder?
Enquanto isso, Macron segue firme em sua posição. Diz que a reforma é "necessária" e que vai até o fim. Mas as ruas francesas estão dizendo outra coisa — e bem alto. Resta saber quem vai cansar primeiro: o palácio ou o povo.