
O Peru está vivendo dias intensos, para não dizer conturbados. E quem está segurando a ponta dessa história? A Geração Z, essa turma que muita gente ainda subestima. Eles estão nas ruas de Lima e outras cidades, mostrando que política não é coisa só de gente de terno.
O que começou como uma reação às medidas econômicas do governo Dina Boluarte rapidamente virou algo maior. Muito maior. Os jovens peruanos — estudantes universitários, secundaristas, aqueles que mal começaram a vida adulta — decidiram que chega de ficar quieto.
Não é protesto, é performance
O que mais chama atenção é a criatividade. Não estamos falando daquelas manifestações tradicionais com faixas e palavras de ordem repetidas até cansar. A Geração Z trouxe para as ruas seu mundo digital, sua estética única, seu jeito próprio de se expressar.
Eles transformam o protesto em algo que parece mais um festival de arte de rua. Performances teatrais que criticam a corrupção, instalações que mostram o custo de vida, memes que viram cartazes — é a política sendo feita na linguagem de quem nasceu com smartphone na mão.
"A gente cansa de ver sempre as mesmas cenas", me disse um estudante de 19 anos que preferiu não se identificar. "Se a política tradicional não nos representa, vamos criar nossa própria forma de fazer política." E estão criando, sim senhor.
O estopim foi econômico, mas a raiz é mais profunda
Tudo começou com aquelas medidas de ajuste fiscal que o governo tentou empurrar — sabe como é, sempre querem cortar onde mais dói no bolso do trabalhador e do estudante. Só que dessa vez a resposta foi diferente.
Os jovens perceberam que não se trata apenas de um aumento aqui, uma redução ali. É todo um sistema que parece feito para mantê-los à margem. Educação cara, emprego precário, futuro incerto — a receita perfeita para uma explosão social.
E olha, eles têm razão em se preocupar. O Peru vive uma daquelas crises políticas que parecem não ter fim, com presidentes caindo como dominó e promessas que nunca se cumprem.
Nas redes e nas ruas: a dualidade da nova militância
O que me impressiona — e confesso que não esperava — é como conseguem articular o online com o offline. Organizam tudo pelas redes sociais, mas não ficam só no virtual. Quando combinam de ir para a rua, vão mesmo.
E não é aquela organização hierárquica, cheia de comitês e coordenações. Funciona mais como uma rede, um organismo vivo que se adapta rapidamente. Se uma tática não funciona, mudam na hora. Se a polícia fecha um espaço, ocupam outro.
É fascinante observar, mesmo para quem como eu já cobriu tantos movimentos sociais. Essa geração trouxe uma agilidade que deixa qualquer estrutura tradicional no chinelo.
E o governo? Bem, o governo tenta entender o que está acontecendo
Dá para ver a perplexidade nos olhos dos políticos mais velhos. Eles não conseguem decifrar esse novo código, essa linguagem que mistura referências da internet com demandas sociais sérias.
Enquanto isso, a repressão segue o roteiro antigo — e está claro que não está funcionando. Cada dispersão com gás lacrimogêneo, cada prisão, só alimenta mais a chama do movimento.
Os jovens aprenderem com os erros das gerações anteriores. Sabem da importância das imagens, das narrativas, do controle da comunicação. E, francamente, estão dando um banho nisso.
O Peru pode estar mostrando ao mundo — e particularmente à América Latina — que a política está prestes a ganhar novos ares. E dessa vez, quem está no comando da mudança são aqueles que herdarão o país, com todas suas contradições e desafios.
Resta saber se o establishment vai aprender a ouvir, ou se insistirá em não entender o recado. Pela história, aposto mais na segunda opção — mas torço para estar errado.