
E lá vamos nós de novo. O partido de Nayib Bukele, o homem que transformou El Salvador num laboratório de políticas de segurança controversas, decidiu que quatro anos não são suficientes. Nem oito. Na verdade, quem sabe quantos?
Nesta quarta-feira (30), os aliados do presidente — que já governa com mão de ferro desde 2019 — protocolaram um projeto bombástico: querem permitir reeleições presidenciais sem limite e, de quebra, estender a duração do mandato. Um pacote que, convenhamos, cheira a eternização no poder.
O que está em jogo?
Detalhes vazados do texto — que ainda não foi divulgado oficialmente — indicam três mudanças radicais:
- Fim do limite de reeleições (atualmente só uma recondução é permitida)
- Aumento do mandato de 5 para 6 anos
- Possibilidade de Bukele concorrer em 2029, apesar da atual Constituição
"É um ataque frontal à democracia", disparou um deputado oposicionista, enquanto acionistas do mercado já especulam sobre o impacto nas dívidas do país. Afinal, investidores adoram estabilidade... mas até que ponto?
O contexto que explica (mas não justifica)
Bukele não é qualquer presidente. Eleito com promessas de acabar com as maras (gangues que aterrorizavam o país), implementou um estado de exceção que reduziu homicídios em 70% — às custas de 75 mil detidos e denúncias de tortura. Popularidade? Beira os 90%.
"O povo salvadorenho está cansado de elites tradicionais", argumenta um assessor presidencial. Mas será que aprovarão virar uma "democracia iliberal" como Hungria ou Turquia?
Ah, e detalhe: o partido dele controla 54 das 60 cadeiras no Congresso. Ou seja, a aprovação é questão de tempo — a menos que a pressão internacional mude o jogo.