
O clima no Congresso Nacional está longe de ser dos melhores — e a discussão sobre uma possível anistia ampla aos bolsonaristas envolvidos nos protestos de 8 de janeiro parece estar longe de um consenso. Quem diz isso é ninguém menos que o líder do governo no Legislativo, deputado José Guimarães (PT-CE), conhecido como Motta.
"Não há ambiente favorável", disparou o parlamentar, em entrevista coletiva nesta quarta-feira. Segundo ele, a proposta — que vem sendo defendida por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro — não tem o respaldo necessário para avançar. "É como tentar empurrar goiaba com arame farpado: não cola."
Divisão entre os poderes
O tema, que já era espinhoso, ganhou novos contornos depois que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), demonstraram posturas distintas. Enquanto Pacheco sinalizou abertura para discutir o assunto, Lira preferiu não colocar a pauta em votação — pelo menos por enquanto.
"Tem horas que é melhor deixar a panela de pressão esfriar", filosofou um assessor parlamentar que preferiu não se identificar. De fato, a memória dos ataques às sedes dos Três Poderes ainda está fresca — e qualquer movimento nessa direção pode reacender ânimos.
O que dizem os números?
- 72% dos deputados ouvidos em pesquisa interna consideram a proposta "prematura"
- Apenas 18% dos senadores demonstraram apoio imediato à anistia
- 63% da população rejeita qualquer tipo de perdão, segundo Datafolha
Não é difícil entender o porquê. Para muitos, conceder anistia seria como "premiar o mau comportamento" — nas palavras de uma senadora governista que pediu para não ser nomeada. "Tem gente que acha que política é circo, mas aqui não tem palhaço não", completou, num misto de ironia e cansaço.
Do outro lado, os defensores da medida argumentam que o país precisa "virar a página". Só que, pelo visto, essa página ainda está bem grudada no livro da história recente brasileira.