
Parece que a sanidade política anda em falta no Congresso Nacional. Pelo menos é o que deixa transparecer o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao se referir a uma das mais recentes – e, diga-se de passagem, bizarras – manobras em tramitação por lá.
Haddad não usou meias palavras. Para ele, a simples ideia de condicionar a aprovação do aumento da isenção do Imposto de Renda à votação do famigerado Projeto de Lei da Dosimetria é, nas suas exatas e contundentes palavras, uma verdadeira loucura. E olha que ele já viu cada coisa nesses corredores…
O Xadrez Político por Trás das Propostas
O que está em jogo aqui são duas pautas de pesos bastante diferentes, mas com um apelo popular imenso. De um lado, a proposta de elevar o patamar de isenção do IR para quem ganha até dois salários mínimos – uma promessa de campanha do governo Lula que, convenhamos, está mais do que atrasada. É aquela notícia que o trabalhador espera ansiosamente no fim do mês.
Do outro, o PL da Dosimetria, que basicamente quer mudar as regras para a dosagem de drogas ilícitas, um tema espinhoso que divide opiniões e gera acalorados debates. Juntar essas duas coisas? Só mesmo na mente fértil de algum estrategista político desesperado por leverage.
“Isso não faz o menor sentido”, deve ter pensado Haddad, ao ser confrontado com a possibilidade. É como tentar trocar a venda de um carro pela aprovação de uma reforma no código de trânsito – coisas completamente desconexas.
Os Riscos de um Jogo Perigoso
O grande pergo, e Haddad sabe disso muito bem, é que esse tipo de barganha pode fazer com que uma proposta importante e urgente fique refém de um debate ideológico sem fim. Enquanto os parlamentares discutem a dosimetria, milhões de brasileiros continuam pagando IR mesmo com renda baixa. Uma injustiça que se perpetua.
- Promessa emperrada: O aumento da isenção é uma antiga reivindicação da classe trabalhadora.
- Jogo de poder: Usar uma pauta social como moeda de troca revela uma certa cynicism político.
- Timing crucial: Com a economia ainda patinando, alívio tributário para as famílias é mais necessário do que nunca.
Não é de hoje que o Palácio do Planalto tenta emplacar a medida. A resistência, no entanto, tem sido grande – e agora surge mais esse obstáculo, digamos, criativo. Haddad, conhecido por seu pulso firme, parece não estar disposto a ceder a esse tipo de pressão. A pergunta que fica é: até quando o Congresso vai insistir nesse caminho?
A verdade é que a população cansa desse vai e vem. Espera-se que o bom senso prevaleça e que as pautas sejam votadas pelos seus próprios méritos, e não por acordos de bastidor que pouco têm a ver com o interesse público. Mas, como bem sabemos, na política nem sempre o óbvio vence.