Cientista Indígena Leva à COP30 Proposta Revolucionária: Demarcação de Terras Como Solução Climática Global
Cientista indígena na COP30: demarcação é solução climática

Imagine ouvir algo tão óbvio que você se pergunta por que ninguém tinha dito antes. Foi exatamente isso que aconteceu quando Jocélia Andrade, uma cientista macuxi de 32 anos de Roraima, subiu ao palco principal da COP30 em Belém.

Ela não veio com gráficos complexos ou jargões técnicos incompreensíveis. Trouxe uma ideia simples, porém revolucionária: a demarcação de terras indígenas como a política climática mais eficaz que o mundo poderia adotar.

«Nós, povos originários, somos os guardiões originais do clima», declarou Jocélia, com uma calma que contrastava com a grandiosidade de suas palavras. «Enquanto o mundo discute tecnologias caras e complexas, a solução mais eficaz está bem aqui: proteger nossas terras significa proteger o planeta.»

Uma Voz que Ecoa Além das Fronteiras

Jocélia não é uma voz qualquer no wilderness científico. Com mestrado em etnobiologia pela UFSCar e doutorado em andamento na mesma instituição, ela representa uma ponte entre o conhecimento ancestral e a ciência ocidental. Sua nomeação como enviada especial do Brasil à COP30 não foi mera cortesia diplomática – foi reconhecimento.

«Ela chegou lá não como 'representante dos indígenas', mas como cientista, ponto final», observou um delegado europeu que preferiu não se identificar. «E isso muda completamente a dinâmica da conversa.»

Os Números que Não Mentem

O que torna a proposta de Jocélia tão convincente? Dados concretos. Terras indígenas demarcadas na Amazônia brasileira apresentam:

  • Taxas de desmatamento até 86% menores que áreas não protegidas
  • Estoque de carbono significativamente mais preservado
  • Biodiversidade praticamente intacta em comparação com áreas adjacentes

«É como se tivéssemos ignorado o elefante na sala durante décadas», comentou ela, com um sorriso que misturava ironia e cansaço. «Os povos indígenas representam menos de 5% da população global, mas protegem 80% da biodiversidade restante. A matemática é simples, não?»

O Reconhecimento que Demora, mas Chega

A nomeação de Jocélia como enviada especial não aconteceu do dia para a noite. Foi resultado de anos de advocacy do movimento indígena brasileiro, que ganhou força especialmente após a posse do governo Lula.

«É um reconhecimento tardio, mas vital», analisou um antropólogo que acompanha o processo. «Finalmente estamos entendendo que não se trata apenas de 'incluir' os povos indígenas na conversa, mas de reconhecer que eles são a conversa.»

O momento mais emblemático? Quando Jocélia encerrou sua fala não com um obrigada convencional, mas com um alerta: «Não estamos apenas protegendo terras. Estamos protegendo o futuro de todos. E esse futuro não é negociável.»

O silêncio que seguiu durou apenas um instante antes de ser substituído por aplausos que pareciam não querer cessar. Talvez porque, pela primeira vez, alguém tinha dito exatamente o que todos precisavam ouvir.