
Parece que o governador Tarcísio de Freitas resolveu dar uma de historiador nas horas vagas. E olha, a tentativa foi, no mínimo, curiosa.
Numa dessas solenidades oficiais — aquelas com faixas, palanque e discursos cheios de promessas —, o homem resolveu puxar o nome de ninguém menos que Juscelino Kubitschek para justificar seus projetos. JK, cara! O presidente que mudou o Brasil com Brasília e uma porção de estradas.
E aí a coisa descambou.
Não é que Tarcísio meteu o pé na jaca e comparou as próprias obras à era dourada do desenvolvimentismo? Pois é. Ele defendeu que está fazendo pelo estado de São Paulo o que JK fez pelo país nos anos 1950. Arrojado, né?
Mas é claro que a analogia não colou
Especialistas em história política e economia já caíram matando. Dizem que a comparação é forçada, anacrônica e — pior ainda — desrespeitosa. Afinal, JK não era só um gestor: era um visionário com um projeto de nação.
E tem mais: usar o nome de um ex-presidente como argumento de autoridade é, no mínimo, arriscado. Principalmente quando se trata de uma figura quase mitológica como Juscelino.
Não se brinca com o passado alheio. Muito menos com o legado de quem construiu capital federal do zero.
O revisionismo histórico à la Tarcísio
O pior de tudo é que isso não é inocente. Longe disso. Trata-se de uma estratégia — nem tão disfarçada — de se associar a símbolos positivos da política nacional. Querem criar uma aura de realizador em torno do governador paulista.
Só que história não é marketing. E o povo — pasmem — não é tão bobo assim.
Comparar rodovias estaduais com a construção de uma capital é de uma ousadia que beira o surreal. É como comparar um potinho de iogurte com o Pão de Açúcar.
Não dá.
E as críticas? Chovendo de todo lado
De historiadores a políticos de oposição, todo mundo deu pitaco. Uns lembram que JK governou em outro contexto, com outros desafios e — atenção — com amplo apoio popular e congressual.
Outros destacam que o desenvolvimentismo de verdade vai além de asfaltar estrada. Envolve planejamento, integração nacional e, sobretudo, visão de futuro.
Algo que, convenhamos, anda em falta por aí.
E agora, José?
Tarcísio segue firme no discurso. Mas a pergunta que fica é: será que vale a pena queimar a imagem de um ícone histórico para emplacar uma narrativa?
Porque a memória de JK merece respeito. E o povo brasileiro — ah, o povo — merece debates honestos, não revisionismos baratos.
Fica a dica.