
O mundo do jornalismo perdeu uma de suas colunas mestras. Aos 92 anos, partiu Mino Carta — um nome que, pra muita gente, é sinônimo puro e simples de imprensa no Brasil. Não é exagero. O homem que ajudou a fundar duas revistas que mudaram o patamar do debate nacional, Veja e CartaCapital, deixou um vazio que vai doer por muito tempo.
Nascido em Gênova, na Itália, em 1932, Carta não apenas testemunhou a história do país — ele a escreveu, editou e, não raro, a criticou com a ferocidade de quem acredita no poder das palavras. Chegou ao Brasil ainda menino, em 1939, e fez daqui sua praça de guerra intelectual. E que guerreiro.
Foi na redação que ele encontrou seu território. Dirigiu publicações como Quatro Rodas e Visão antes de colocar no papel a ideia que viria a ser a maior revista de informação do país: Veja, em 1968. Mas Mino nunca foi homem de se acomodar.
Anos mais tarde, em 1994, insatisfeito com os rumos do mainstream, fundou a CartaCapital — uma trincheira de esquerda, crítica, afiada e, acima de tudo, independente. Não tinha medo de polêmica. Pelo contrário: parecia alimentar-se dela.
Mais do que um editor, um formador de opinião
Quem passou por suas redações — e foram muitas as penas que ele lapidou — sabe: Mino era daqueles raros editores que não apenas comandavam, mas inspiravam. Exigente até a raiz, dono de um texto preciso e uma visão estratégica afiadíssima. Deixou marcas profundas no jornalismo político e econômico brasileiro.
Nos últimos anos, mesmo com a saúde frágil, nunca se afastou completamente do ofício. Escreveu até onde pôde. Deixou artigos, livros e — talvez seu maior legado — uma geração de jornalistas que aprenderam com ele que notícia sem ângulo é só papel pintado.
A causa da morte não foi divulgada pela família, que pediu privacidade neste momento de luto. Mas uma coisa é certa: o silêncio que deixa não é pequeno. É daqueles que ecoam.