
Quem diria que por trás daquelas paredes imponentes da Câmara Municipal de Piracicaba rola uma história que mistura dinheiro sujo — literalmente — com um marco de representatividade? Pois é, a construção da sede, lá nos idos do século XIX, foi bancada por uma taxa cobrada sobre... adivinha só? A escravidão.
Não é brincadeira. Enquanto o Brasil ainda arrastava correntes no período imperial, Piracicaba — sim, essa mesma que hoje é conhecida pelos peixes pulando no salto — usava um imposto sobre o "tráfico de peças" (leia-se: seres humanos) para erguer o prédio que até hoje abriga os vereadores.
O ouro negro que virou tijolo
Detalhe macabro: documentos da época mostram que entre 1822 e 1830, nada menos que 60% da receita municipal vinha desse tributo sinistro. Dá pra acreditar? O dinheiro que deveria reparar atrocidades acabou virando símbolo de poder.
Mas a história tem seus capítulos imprevisíveis. Quase 150 anos depois, em 1976, aquele mesmo prédio assistiu a posse de Geraldo de Campos — o primeiro presidente negro da Casa. Ironia do destino ou justiça histórica tardia? Você decide.
Geraldo de Campos: o homem que quebrou padrões
Numa época em que "cabelo bombril" ainda era insulto comum, Campos enfrentou o racismo estrutural com uma postura que misturava elegância e pulso firme. Contam que ele costumava dizer: "Meu avô carregou pedras pra construir esse país. Eu vim pra ajudar a governá-lo".
E olha que o cara não ficou só no discurso. Durante seu mandato, criou o primeiro programa de assistência jurídica gratuita da região — algo revolucionário pra época. Não à toa, hoje tem rua com o nome dele.
O prédio que virou símbolo
O edifício em si é um personagem dessa história. Construído no estilo neoclássico — moda arquitetônica da elite da época — hoje abriga no térreo um centro cultural que justamente conta a história da população negra local. Quem diria, hein?
Ah, e pra quem acha que isso é passado distante: em 2022, durante reformas, trabalhadores acharam no porão correntes oxidadas que ninguém sabe explicar direito como foram parar lá. Coincidência? A gente duvida.
Essa história toda levanta um debate que ainda ecoa: como lidar com monumentos e prédios históricos construídos com sangue e suor de gerações escravizadas? Apagar a história não resolve, mas será que só colocar uma plaquinha basta?