Piracicaba: Como uma taxa sobre a escravidão financiou a sede da Câmara e o 1º presidente negro nos anos 70
Como taxa da escravidão financiou Câmara de Piracicaba

Quem diria que por trás daquelas paredes imponentes da Câmara Municipal de Piracicaba rola uma história que mistura dinheiro sujo — literalmente — com um marco de representatividade? Pois é, a construção da sede, lá nos idos do século XIX, foi bancada por uma taxa cobrada sobre... adivinha só? A escravidão.

Não é brincadeira. Enquanto o Brasil ainda arrastava correntes no período imperial, Piracicaba — sim, essa mesma que hoje é conhecida pelos peixes pulando no salto — usava um imposto sobre o "tráfico de peças" (leia-se: seres humanos) para erguer o prédio que até hoje abriga os vereadores.

O ouro negro que virou tijolo

Detalhe macabro: documentos da época mostram que entre 1822 e 1830, nada menos que 60% da receita municipal vinha desse tributo sinistro. Dá pra acreditar? O dinheiro que deveria reparar atrocidades acabou virando símbolo de poder.

Mas a história tem seus capítulos imprevisíveis. Quase 150 anos depois, em 1976, aquele mesmo prédio assistiu a posse de Geraldo de Campos — o primeiro presidente negro da Casa. Ironia do destino ou justiça histórica tardia? Você decide.

Geraldo de Campos: o homem que quebrou padrões

Numa época em que "cabelo bombril" ainda era insulto comum, Campos enfrentou o racismo estrutural com uma postura que misturava elegância e pulso firme. Contam que ele costumava dizer: "Meu avô carregou pedras pra construir esse país. Eu vim pra ajudar a governá-lo".

E olha que o cara não ficou só no discurso. Durante seu mandato, criou o primeiro programa de assistência jurídica gratuita da região — algo revolucionário pra época. Não à toa, hoje tem rua com o nome dele.

O prédio que virou símbolo

O edifício em si é um personagem dessa história. Construído no estilo neoclássico — moda arquitetônica da elite da época — hoje abriga no térreo um centro cultural que justamente conta a história da população negra local. Quem diria, hein?

Ah, e pra quem acha que isso é passado distante: em 2022, durante reformas, trabalhadores acharam no porão correntes oxidadas que ninguém sabe explicar direito como foram parar lá. Coincidência? A gente duvida.

Essa história toda levanta um debate que ainda ecoa: como lidar com monumentos e prédios históricos construídos com sangue e suor de gerações escravizadas? Apagar a história não resolve, mas será que só colocar uma plaquinha basta?