
Depois de semanas sob os holofotes globais, Israel decidiu afrouxar um pouco o cerco — mas só um pouco. A partir de agora, caminhões com alimentos, remédios e outros itens básicos poderão entrar em Gaza com menos obstáculos. Uma mudança que parece simples, mas que carrega um peso histórico digno de um romance de Dostoiévski.
Segundo fontes do Ministério da Defesa israelense, a decisão veio após "avaliação cuidadosa da situação humanitária". Traduzindo: a pressão internacional estava ficando difícil de ignorar. Só na última semana, três resoluções da ONU e protestos em 15 capitais europeias.
O que realmente muda no dia a dia?
Na prática, os postos de controle na fronteira de Kerem Shalom vão funcionar com horário estendido — das 8h às 22h. Antes, fechavam às 16h. Parece pouco? Para famílias que dependem de cada saco de farinha, é a diferença entre comer ou não.
- Número máximo diário de caminhões sobe de 250 para 300
- Inspeções aleatórias reduzem de 30% para 15% da carga
- Produtos antes barrados, como baterias solares, agora liberados
Mas não se iluda: o bloqueio naval continua firme. E aquela lista interminável de itens "potencialmente duplo uso"? Ainda lá. "Até lápis podem ser vetados se acharem que o grafite serve para outra coisa", reclama um funcionário da UNRWA que preferiu não se identificar.
Entre a cruz e a espada
O governo Netanyahu caminha numa corda bamba. De um lado, aliados conservadores que veem qualquer concessão como fraqueza. Do outro, parceiros ocidentais exaustos com imagens de crianças desnutridas. "É como administrar um divórcio onde a casa pegou fogo", filosofa um diplomata europeu em Tel Aviv.
Enquanto isso, em Gaza, a população recebe a notícia com ceticismo. "Já vimos esse filme antes", diz Ahmed, dono de um pequeno mercado em Rafah. "No mês passado, liberaram leite em pó, mas barraram o gás para cozinhar. Como fazer mamadeira?"