
O pó parece nunca assentar no Oriente Médio — e dessa vez, a poeira é literal. Enquanto você lê isso, tanques israelenses riscam a paisagem da Faixa de Gaza como formigas obstinadas. Quase 90% do território? Já sob suas botas. O que parecia um conflito cíclico virou algo diferente: uma máquina de guerra determinada a engolir cada metro quadrado.
Do mapa para o chão
Quem olha os satélites hoje vê um quebra-cabeça de destruição. Bairros inteiros transformados em escombros, estradas que mais parecem cicatrizes — e no meio disso tudo, o avanço implacável. "É como assistir uma avalanche em câmera lenta", comenta um analista militar que pediu para não ser identificado. "Só que ao invés de neve, é concreto e sangue."
Os números que doem
- Mais de 200 dias de operação militar contínua
- Quase 2 milhões de deslocados — sim, praticamente a população toda
- Estimativas de 30 mil estruturas destruídas ou danificadas
E agora? O governo israelense deixa claro: quer tudo. Não só o controle temporário, mas uma ocupação que, nas palavras do ministro da Defesa, "garanta segurança permanente". Algo que, convenhamos, soa como um oxímoro nessa região.
Raízes de um conflito sem fim
Para entender essa teia, precisamos voltar — bem mais que alguns meses. A Faixa de Gaza sempre foi o calcanhar de Aquiles geopolítico. Desde 1967 sob administração israelense, depois "devolvida" nos anos 2000... só para se tornar um barril de pólvora. Hamas no poder, bloqueios econômicos, foguetes, represálias — um ciclo vicioso que parece escrito pelas mãos de um roteirista macabro.
O que mudou agora? A escala. A ferocidade. A falta — digamos — de freios morais. "Estamos testemunhando uma reconfiguração completa do tabuleiro", analisa a professora de relações internacionais da USP, Claudia Marques. "E o preço humanitário? Bem, esse fica para as estatísticas futuras."
O que esperar?
- Resistência urbana — quanto mais Israel avança, mais cara fica a ocupação
- Pressão internacional crescendo, mas com efeitos limitados
- Um possível êxodo em massa para o Egito — que já barra sua fronteira
Enquanto isso, nas ruas de Tel Aviv, a vida segue quase normal. Cafés cheios, praias animadas. A apenas 70km do inferno, a dissonância cognitiva é palpável. "É como se existissem dois universos paralelos", murmura um jovem israelense que prefere não dar o nome. "Um onde a guerra é real, e outro onde ela é só mais um item no noticiário."