
O clima em Doha parecia mais pesado que o habitual nesta terça-feira. Enquanto cafés serviam cardamomo a diplomatas de ternos impecáveis, as mesas de negociação esfriaram de vez — e não por falta de ar condicionado no deserto.
Fontes próximas ao governo qatari contam, em off, que os enviados especiais de Washington e Tel Aviv fizeram as malas antes do previsto. "Foi como assistir a um filme de suspense onde todos já sabem o final trágico", comentou um funcionário do hotel que hospedava as delegações.
O impasse que ninguém quer assumir
Do lado israelense, a narrativa é clara: "O Hamas continua jogando pedras no caminho da paz", declarou um assessor do gabinete de Netanyahu, usando uma metáfora que soa particularmente irônica em meio a bombardeios reais. Já os americanos, sempre equilibristas nesse circo geopolítico, emitiram um comunicado tão cuidadosamente redigido que poderia ser usado como manual de como não dizer nada em dez parágrafos.
- Retirada imediata dos mediadores
- Nenhuma nova rodada de conversas agendada
- Acusações mútuas sobre quem "estragou o jantar"
E no meio disso tudo? Gaza. Sempre Gaza. Enquanto os ternos debatem em salas climatizadas, os números da ONU — aqueles que ninguém gosta de mencionar nos comunicados oficiais — continuam subindo: mais de 30 mil civis mortos desde outubro. "Estatísticas" que têm nome, sobrenome e brinquedos espalhados sob os escombros.
E agora?
Analistas ouvidos — aqueles que ainda se arriscam a dar palpites nesse vespeiro — sugerem três cenários possíveis:
- Escalada militar: Israel pode intensificar operações em Rafah
- Pressão econômica: EUA estudam novas sanções a financiadores do Hamas
- Pausa estratégica: Negociações retomadas só após Ramadã
Mas entre o discurso oficial e a realidade no terreno, há um abismo que nem os melhores drones de reconhecimento conseguem mapear. Enquanto isso, nas ruas de Ramallah, a piada corrente é que "até as pombas da paz estão migrando para zonas mais seguras".