
Num cantinho esquecido do centro-oeste mineiro, tem um mestre que não ensina só golpes e esquivas. Ele tá mudando vidas — e como! Com uma ginga que mistura ancestralidade e futuro, o professor Rogério Silva (ou melhor, Mestre Carcará, como é conhecido na roda) transformou um antigo galpão em ponto de encontro de sonhos.
Mais que uma luta, uma revolução silenciosa
Quem chega lá às terças e quintas vê de tudo: crianças que mal alcançam a cintura dos adultos tentando fazer aú, adolescentes discutindo filosofia entre um treino e outro, até senhoras de 60 anos descobrindo que têm ritmo no sangue. "Aqui a gente não separa o corpo da mente", diz o mestre, enquanto ajusta o berimbau com um cuidado de ourives.
O projeto — que começou com 5 alunos e agora tem lista de espera — virou farol na comunidade. E olha que nem sempre foi assim: no começo, os vizinhos torciam o nariz. "Capoeira? Isso é coisa de malandro!", ouviam direto. Mas aí vieram os primeiros resultados...
Números que falam por si
- 87% dos participantes melhoraram notas na escola
- 3 ex-alunos hoje são instrutores
- Redução de 40% em ocorrências policiais na área
Não é magia — é trabalho duro. Das 15h até o sol se por, o espaço vive. Tem aula de história da África antes do treino, oficina de instrumentos com material reciclado, até ajuda pra montar currículo. "A capoeira é só a porta de entrada", conta Maria Eduarda, 17 anos, que entrou tímida e hoje ajuda a organizar eventos.
O segredo? Misturar tradição com modernidade
Enquanto muitos projetos culturais ficam presos no passado ou se perdem em modismos, o do Mestre Carcará achou o ponto certo. Os jovens aprendem ladainha em português antigo, mas também gravam TikTok explicando cada movimento. O grupo já se apresentou até em seminário universitário — de camiseta rasgada e descalços, causando frisson!
"Tem dia que a gente dá sopa e pão depois do treino", revela o mestre, mostrando a cozinha improvisada. "Mas o que esses moleques levam mesmo é autoestima. Isso ninguém tira depois."
O projeto agora busca patrocínio para ampliar — querem incluir aulas de reforço escolar e profissionalizantes. Enquanto isso, a roda continua girando. Literalmente. Todo sábado tem batizado de capoeira, quando novos cordéis são conquistados. E a comunidade, antes cética, agora marca lugar com antecedência.