
Parece que a Bolsa brasileira virou uma montanha-russa emocionante — e nem sempre pela diversão. Os pregões andam mais sensíveis que vilão de novela, reagindo a cada fôlego da política internacional. E a eleição americana? Aqui virou o grande espetáculo que define o humor dos investidores.
Nesta quarta-feira, o Ibovespa deu uma de gato pingado, fechando praticamente estável, com uma leve alta de 0,08%, aos 127.859 pontos. Mas não se engane pela aparente calmaria: por trás desse número, uma verdadeira sinuca de bico se desenrola. O mercado respira aliviado com a possibilidade de Joe Biden continuar na Casa Branca — uma vitória do democrata seria recebida com festa, ao menos inicialmente. Mas é aí que mora o perigo.
O Fantasma de Trump e o Alívio Cauteloso
O alívio com Biden, contudo, vem acompanhado de um enorme “mas”. Um segundo turno apertado, ou pior ainda, uma vitória de Donald Trump, pode jogar tudo para o alto. O mercado tem memória — e lembra muito bem do tombo de 4,5% no Ibovespa no dia seguinte à vitória surpresa de Trump em 2016. A simples possibilidade de seu retorno já é suficiente para causar calafrios.
E não é para menos. A retórica agressiva do republicano em relação à China é um ponto de enorme preocupação. Uma nova guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo seria um desastre para uma economia emergente e commodity-dependente como a brasileira. É como esperar por um temporal seguro, sabendo que seu telhado tem goteiras.
Lula e Biden: O “Casamento” por Conveniência
Enquanto isso, a relação Lula-Biden vive um momento peculiar, um daqueles acordos de cavalheiros que todo mundo sabe que é frágil. A reaproximação Brasil-EUA, iniciada com certo otimismo, agora esbarra em divergências práticas e… digamos, desencontros de personalidade.
O governo Lula tenta equilibrar-se numa corda bamba. De um lado, a necessidade de manter um diálogo civilizado com os EUA, nosso segundo maior parceiro comercial. Do outro, a pressão interna de sua base política por um alinhamento mais crítico em temas sensíveis, como a guerra na Ucrânia e o relacionamento com regimes questionados. É um jogo de xadrez onde um movimento em falso pode custar caro.
O resultado? Um relacionamento que, na prática, esfriou. As grandes expectativas de parcerias estratégicas e investimentos deram lugar a uma convivência mais pragmática, quase burocrática. O “novo porém” do título é justamente esse: a percepção de que a aliança não decolou como se esperava, e que o Brasil pode ficar num limbo geopolítico incômodo.
E Agora, José?
Para o investidor comum, que acompanha tudo isso pela tela do celular, a sensação é de impotência. O que fazer num cenário tão imprevisível? Especialistas ouvidos pela coluna são unânimes em pelo menos um ponto: diversificação é a palavra de ordem. Não coloque todos os ovos na cesta da vitória de um ou outro candidato americano.
O mercado financeiro, no fundo, é um animal que odeia surpresas. E 2024 está prometendo ser um ano repleto delas. A lição que fica é que, mais do que nunca, é preciso ter estômago — e uma boa estratégia — para navegar nessas águas turbulentas. A única certeza é a volatilidade.