
Numa decisão que ecoa como um lembrete sombrio do passado, a Justiça acaba de condenar a Volkswagen do Brasil a pagar uma indenização que beira os R$ 1,65 milhão. O motivo? Práticas laborais que, vamos chamar as coisas pelos nomes, se assemelhavam muito à escravidão durante os anos de chumbo da ditadura militar.
Pensa só: era 1973. O Brasil vivia sob um regime de exceção, e a fábrica da VW em São Bernardo do Campo virou palco de um verdadeiro horror. Trabalhadores eram praticamente sequestrados de suas terras no Nordeste – Maranhão, principalmente – com promessas de uma vida melhor que nunca se materializaram.
O Mecanismo da Exploração
Como isso funcionava? A empresa, em conluio com intermediários, recrutava esses homens. A viagem, claro, era por conta deles. Chegando lá, a realidade era brutal: alojamentos superlotados e insalubres, jornadas exaustivas que ultrapassavam qualquer limite humano, e um sistema de vigilância e controle que beirava o inacreditável.
Não bastasse a exploração no trabalho, havia ainda as famosas "dívidas" com alimentação e transporte. Um ciclo vicioso e perverso que tornava a fuga praticamente impossível. Um verdadeiro cativeiro moderno.
Os Valores da Reparação (que Nunca será Total)
Agora, quase 50 anos depois, a Justiça tenta costurar alguma reparação. A sentença fixou:
- R$ 1 milhão para danos morais coletivos;
- R$ 50 mil para cada um dos 13 trabalhadores identificados (totalizando R$ 650 mil);
- Juros e correção monetária desde 2019.
É muito dinheiro? Sim. É suficiente para apagar décadas de sofrimento e trauma? Jamais. Como colocar preço na dignidade violada?
A defesa da montadora, como era de se esperar, já anunciou que vai recorrer. Alega que a ação prescreveu e que não há como responsabilizar a empresa de hoje por eventos de um passado distante. Um argumento que, convenhamos, soa um tanto quanto frágil perto da gravidade dos fatos.
Este caso vai além de uma simples condenação trabalhista. Ele cutuca a ferida mal cicatrizada de um período obscuro da nossa história, onde a linha entre o desenvolvimento econômico e a violação sistemática de direitos humanos era perigosamente tênue. Serve de alerta para que práticas assim nunca, jamais, se repitam.