MPF Investiga Abusos em Hospícios de MG: Vítimas de Internações Compulsórias Buscam Reparação Histórica
MPF investiga abusos em hospitais psiquiátricos de MG

Era suposto ser tratamento. Tornou-se tormento. O Ministério Público Federal em Juiz de Fora mergulhou fundo num dos capítulos mais sombrios da história da saúde mental em Minas Gerais – as internações compulsórias que marcaram a vida de centenas de pessoas em antigos hospitais psiquiátricos da Zona da Mata.

O que encontraram? Não foram apenas registros médicos. Foram relatos que cortam como faca. Histórias de pessoas privadas de liberdade, submetidas a tratamentos que mais pareciam punições, longe dos olhos da sociedade. Uma verdadeira usina de sofrimento que funcionou por anos sob o manto de supostos cuidados médicos.

Um Passado Que Não Quer Passar

A investigação – que é minuciosa, diga-se – abrange instituições que já foram sinônimo de horror em cidades como Juiz de Fora, Cataguases e Ubá. Lugares onde o tempo parecia ter parado, mas a dor continuava avançando. A força-tarefa do MPF não quer apenas apontar culpados. Quer, isso sim, reconstruir verdades.

E olha, não tá sendo fácil. Documentos sumiram, memórias foram apagadas, testemunhas se calaram por medo. Mas os procuradores seguem firmes, remexendo em arquivos empoeirados e ouvindo quem ainda tem coragem de falar.

As Vozes do Silêncio

O mais chocante? São os depoimentos daqueles que sobreviveram ao sistema. Gente que perdeu anos de vida entre quatro paredes, sem nunca entender direito o porquê. Pacientes que foram tratados como números, não como seres humanos. Histórias de eletrochoques aplicados sem critério, medicação em doses cavalares e um completo abandono afetivo.

Um senhor, hoje com mais de 70 anos, lembra de chegar ao hospital por "comportamento desviante" e só ver a luz do sol again depois de uma década. Uma mulher fala de ter sido internada pela família por "questionar demais". Casos que parecem ficção científica, mas são terrivelmente reais.

Além da Indenização: O Direito à Memória

O MPF não busca apenas indenizações em dinheiro – que obviamente são importantes, mas não curam feridas da alma. Eles querem uma reparação histórica. Reconhecimento público do que aconteceu. Políticas que garantam que nenhum outro cidadão passe por isso again.

Já imaginou? Ter sua vida interrompida, sua história apagada, sua dignidade pisoteada… e depois simplesmente ser devolvido ao mundo como se nada tivesse acontecido. É contra essa lógica do esquecimento que o Ministério Público luta.

O caso tá longe de terminar. A cada semana, novas peças desse quebra-cabeça macabro surgem. E com elas, a esperança de que justiça – ainda que tardia – possa ser feita.

Porque algumas marcas, mesmo invisíveis, doem pra sempre. E é dever de todos nós garantir que elas não sejam em vão.