
Numa batalha que mistura direito à moradia, tradição ribeirinha e conflitos urbanos, a Defensoria Pública do Amazonas entrou com uma ação para tentar frear a remoção das casas flutuantes no igarapé do Tarumã, em Manaus. A situação tá pegando fogo — e não é só por causa do calor amazônico.
Mais de 20 famílias vivem nesse pedaço esquecido da cidade, onde as casas balançam sobre as águas escuras do igarapé como se fossem extensões naturais da paisagem. Algumas tão ali desde os anos 80, criando raízes — ou melhor, âncoras — no local.
O pulo do gato
A Defensoria tá usando um argumento que parece óbvio, mas que muita gente esquece: essas pessoas não são invasoras. Elas têm contratos de comodato com a União desde 2016, documentos que, em tese, garantem o direito de permanência. Só que agora a Justiça Federal mandou desocupar a área até agosto — e o desespero bateu na porta (ou no deque) de todo mundo.
"É uma situação complexa", admite o defensor público Rafael Barbosa, que tá coordenando a ação. "Por um lado, tem questões ambientais envolvidas. Por outro, famílias inteiras que podem ficar sem teto — ou sem assoalho, no caso."
Entre a cruz e a âncora
Os moradores — gente simples que vive da pesca, do artesanato e de pequenos comércios — argumentam que já tentaram regularizar a situação mil vezes. "A gente paga luz, água, tudo certinho", diz Dona Maria, 62 anos, enquanto arruma as redes na varanda flutuante. "Mas parece que pra certas autoridades, ribeirinho não tem direito a nada."
A Defensoria tá pedindo basicamente três coisas:
- Que a Justiça reveja a decisão de remoção
- Que se encontre uma solução definitiva pra essas famílias
- Que, se a remoção for inevitável, seja garantido aluguel social e indenizações justas
Enquanto isso, a vida no igarapé segue seu curso — com crianças brincando entre as casas de madeira, redes balançando na brisa quente e o medo constante de que tudo possa desaparecer a qualquer momento.
"A gente não quer atrapalhar ninguém", desabafa Seu Raimundo, pescador há 40 anos. "Só quer continuar vivendo do nosso jeito, em paz." E você, acha justo remover comunidades inteiras sem garantir alternativas dignas?