
Numa cidade onde o cheiro de tacacá e açaí costuma se misturar ao burburinho das ruas, há cinco meses falta um ingrediente essencial: o almoço quentinho do Restaurante Popular da Pedro Miranda. Fechado desde fevereiro — sem aviso prévio ou explicação convincente —, o local deixou um vácuo no estômago de quem dependia daquela refeição a preço justo.
A Defensoria Pública do Estado (DPE-PA) resolveu botar o dedo na ferida. Na última segunda (21), entraram com uma ação na Justiça exigindo a reabertura imediata do equipamento público. "Isso não é mero capricho burocrático", dispara o defensor Marcelo Soares, cujo tom de voz sobe meio tom ao falar do caso. "Temos relatos de idosos que substituíram almoço por café com pão velho."
O que deu errado?
O silêncio oficial é ensurdecedor. A Secretaria de Assistência Social, responsável pelo restaurante, limita-se a dizer que "há problemas na licitação" — enquanto isso, as panelas continuam frias. Curiosamente, o local foi reformado há pouco mais de um ano com pompa e verba pública (R$ 1,2 milhão, pra ser exato).
- 600 refeições diárias deixaram de ser servidas
- Preço congelado em R$ 2 desde 2019
- 70% dos frequentadores tinham renda inferior a 1 salário mínimo
Na pracinha ao lado, Dona Maria, 68 anos, conta enquanto mexe um café ralo: "Antes eu almoçava lá e jantava em casa. Agora é o contrário — quando tem". Seu depoimento escancara o que os números não mostram: quando um prato de comida some, some também um pedaço de dignidade.
O jogo político
Entre um despacho e outro, o caso virou bola na partida entre Defensoria e Governo do Estado. Enquanto a primeira fala em "direito humano à alimentação", o segundo resmunga sobre "questões técnicas". Enquanto isso, o relógio biológico dos mais pobres segue ticando — e os estômagos, roncando.
Pra piorar, estamos no inverno amazônico. Aquele período do ano onde a chuva lava as ruas mas não a fome de ninguém. O restaurante, que deveria ser trincheira contra a insegurança alimentar, parece mais uma vítima da máquina pública emperrada.
E você, acha que esse tipo de serviço é "só mais um gasto" ou linha de frente no combate à desigualdade? A resposta, como sempre, está no prato vazio de quem espera.