
Imagine pegar um pedaço de tecido cru e transformá-lo em algo belo, útil, cheio de propósito. Agora imagine fazer o mesmo com uma vida. É exatamente essa metáfora tátil que move o Projeto Costurando o Futuro, uma iniciativa que está dando o que falar no Piauí – e não é à toa.
O que começou como uma simples oficina de costura virou uma tábua de salvação para mulheres que carregam o peso de um passado no sistema prisional. A professora Maria dos Remendos (nome fictício, mas a história é realíssima) me contou, com aquela voz que mistura cansaço com orgulho: "A gente não está ensinando só ponto zig-zag e barra. A gente está mostrando que sentença não é para sempre, mas oportunidade a gente tem que criar." E como elas estão criando.
Mais Do Que Agulha e Linha
O curso – que dura cerca de três meses – vai muito além do básico. Elas aprendem desde o alinhavo mais simples até técnicas de modelagem e customização. A última coleção, toda feita com retalhos doados, tinha peças que fariam qualquer influencer de moda sustentável babar. Bolsas, ecobags, até roupas com um estilo único que só quem recomeça do zero consegue criar.
Uma das alunas, que preferiu não se identificar, compartilhou: "Aqui ninguém me julga pelo que eu fiz. Julgam pelo que eu estou fazendo agora. E isso muda tudo." Não é sobre esquecer o passado, me disse outra. É sobre não deixar que ele defina o futuro.
O Ponto Certeiro na Economia
O lado financeiro da coisa também é brilhante. Muitas ex-detentas saem de lá não apenas com um certificado, mas com encomendas reais. Pequenos negócios locais têm fechado parcerias, e a demanda por produtos feitos à mão – e com uma história de superação por trás – só cresce. Virou uma espécie de "feira de oportunidades", onde o cliente leva uma peça única e ainda ajuda a costurar uma nova chance pra alguém.
E os números? Bem, números às vezes não capturam o brilho no olho de quem vê seu primeiro trabalho sendo valorizado. Mas capturam isso: a maioria das mulheres que completa o curso não volta para o sistema. Prefere mil vezes a voltinha da linha no tear do que a volta para a cela.
E Agora?
O projeto, que hoje depende de doações e vaquinhas virtuais, sonha alto. Querem uma sede própria, mais máquinas, e quem sabe até uma marca coletiva que possa ser reconhecida nacionalmente. "Já imaginou 'Costurando o Futuro' nas etiquetas de brechós chiques de São Paulo?", sonha a coordenadora, rindo mas sem brincadeira nenhuma.
Enquanto isso, seguram as pontas – e as agulhas – com uma coragem que é tudo, menos fictícia. Porque no fim das contas, como me disse uma das recém-formadas enquanto ajustava a barra de uma saia: "Na vida, assim como na costura, o avesso a gente sempre conserta. O importante é não deixar o tecido rasgar de vez."