
Parece que o motor superaquecido do mercado de trabalho americano está, finalmente, dando uns tossidos. E o mercado financeiro, sempre antenado, já está recalculando a rota.
Os números que saíram nesta sexta-feira não foram exatamente o que se esperava – e olha, nas altas esferas da economia, expectativa é tudo. A tão observada taxa de desemprego deu um salto inesperado para 4%, o maior patamar desde aquele baque todo da pandemia. Não é alarmante, mas é um sinal. Algo como um farol amarelo piscando.
E não para por aí. A criação de vagas fora do setor agrícola também veio mais morna: 272 mil em maio. Pode parecer um número robusto à primeira vista, mas os analistas mais aguçados já esperavam por mais. Muito mais. A revisão dos dados dos meses anteriores para baixo – sim, eles ajustam os números pra trás, é sempre assim – só confirmou que a tendência de resfriamento é real.
O Fed no Centro do Palco
Tudo isso, é claro, joga uma lupa gigante sobre o Federal Reserve, o Fed. A pergunta de um bilhão de dólares que todo mundo está fazendo é: e agora, Jerome Powell?
O mercado, que é um bicho ansioso por natureza, já começou a precificar a possibilidade de um alívio monetário. As apostas de que o Fed vai segurar a barra e não mexer nos juros na reunião de semana que vem dispararam para quase 85%. Traduzindo: ninguém acha que eles vão se arriscar a apertar o parafuso agora.
Mas o que realmente está deixando todo mundo de orelha em pé é a expectativa para o fim do ano. De repente, a chance de pelo menos dois cortes de juros até dezembro parece muito mais tangível. O que era um devaneio distante há algumas semanas, agora soa quase como um plano.
Salários: Um Alívio Morno
E tem mais um ingrediente nessa sopa de números. O crescimento dos salários, que vinha assustando o Fed com seu ritmo forte, também deu uma segurada. Subiu 0,4% no mês, mas a variação anual desacelerou para 4,1%.
Isso é crucial. Porque se os salários sobem menos, a pressão inflacionária causada pela folha de pagamento diminui. E inflação controlada é o passaporte verde para o Fed começar a baixar os juros sem medo de colocar gasolina no fogo.
É uma daquelas equações delicadas: o mercado de trabalho precisa esfriar só o suficiente para domar a inflação, mas não tanto a ponto de jogar a economia numa recessão. Um verdadeiro malabarismo.
O que está claro é que os ventos estão mudando. O ciclo de aperto monetário mais agressivo em décadas parece ter cumprido seu papel. O próximo ato, todos esperam, será de um alívio cauteloso. O mundo inteiro, e o Brasil não fica de fora dessa, fica de olho. Afinal, quando os EUA espirram…