
Quem nunca viu aquela cena clássica em que o pai quer impor suas regras, o filho rebela com ideias modernas e a tia fica no meio tentando apaziguar? Pois é, nos negócios familiares, a linha entre o pessoal e o profissional é tão tênue quanto a paciência de quem tenta administrar tudo isso.
O caldeirão emocional que ferve no escritório
Diferente das corporações tradicionais — onde as hierarquias são claras e os ânimos, digamos, mais refrigerados —, nas empresas familiares cada reunião pode virar um campo minado emocional. E olha que não estou exagerando: segundo especialistas, mais de 70% desses empreendimentos não sobrevivem à segunda geração justamente por não saberem dosar sentimentos e estratégias.
"É como dirigir um carro com um pé no acelerador e outro no freio", define o consultor Marcelo Fernandes, que há 15 anos media conflitos nesse tipo de empresa. Ele conta casos absurdos — como o de uma família que paralisou a produção porque não concordavam sobre qual sabor de café servir na copa. Sério mesmo.
As armadilhas mais comuns (e como escapar delas)
- Misturar almoço de domingo com planejamento estratégico: Aquele papo sobre expansão de mercado acaba virando discussão sobre quem não lavou a louça na última reunião familiar.
- Promoções por DNA, não por competência: Colocar o primo preguiçoso como gerente "porque é família" é receita certa para desmotivar a equipe.
- Falta de protocolos claros: Quando não há regras definidas sobre sucessão ou divisão de lucros, até o Natal vira uma assembleia conturbada.
Mas calma, não é preciso escolher entre manter o negócio ou a harmonia familiar. Algumas empresas — poucas, é verdade — conseguem transformar essa proximidade em vantagem competitiva. Como? Criando mecanismos quase cirúrgicos para separar os papéis.
O segredo está na "dupla personalidade" empresarial
A família Souza, dona de uma rede de padarias em Minas Gerais, desenvolveu um método peculiar: "Na empresa, nos tratamos por sobrenome e cargos, como se fôssemos estranhos", conta a gerente financeira Carla Souza. Parece bizarro, mas funcionou. Eles até criaram um "código de conduta" escrito — com direito a multas simbólicas para quem quebrar as regras.
Já a família Lima preferiu contratar um "CEO externo" para evitar conflitos. "É como ter um técnico de futebol: alguém neutro para tomar as decisões difíceis", explica o patriarca. Claro que isso custa caro, mas ele garante que vale cada centavo pela paz doméstica.
No final das contas, administrar negócios familiares é como fazer malabarismo com ovos — alguns cozidos, outros crus. Requer prática, regras claras e, principalmente, a consciência de que emoções existem e precisam ser gerenciadas, não ignoradas. Como dizia um velho empresário que conheci: "Na firma, deixamos o sangue só nas veias — nunca nas reuniões".