
Numa fala que mistura pragmatismo e uma pitada de ironia, o presidente Lula deixou claro que não vai ficar de pires na mão esperando os Estados Unidos. "Se eles não quiserem comprar nossos produtos, beleza. Vamos procurar quem queira", disparou, com aquela tranquilidade de quem já viu muito barco descer o rio.
O comentário veio durante um encontro sobre comércio exterior em São Paulo, onde Lula parecia mais um vendedor experiente do que propriamente um chefe de Estado. Com aquele jeitão mineiro de quem não gosta de perder tempo, ele foi direto ao ponto: "Tem um monte de país aí querendo fazer negócio com a gente. China, Índia, países árabes... O mundo não acaba nos EUA, não".
Mercado não falta
E não é que ele tem razão? Enquanto a economia global vai dando voltas como carrossel desgovernado, o Brasil segue com suas cartas na manga. Soja, minério, carne - tem produto nosso que até parece água no deserto, tamanha a demanda.
"Já passou da hora da gente diversificar", comentou um empresário do agronegócio que preferiu não se identificar. "Ficar dependente de um só cliente é receita pra dor de cabeça." E olha que ele nem sabe metade das dores que o governo já teve com essas relações comerciais.
Jogo de xadrez comercial
Analistas veem nas palavras de Lula mais do que simples bravata. É estratégia pura, daquelas que se joga com peças de dominó em cima do tabuleiro de xadrez. Enquanto Washington hesita, Brasília já está de malas prontas pra outras paragens.
"Tem que ver como isso vai desenrolar", pondera uma economista que acompanha o setor há décadas. "Mas uma coisa é certa: o presidente não está com papas na língua." E de fato não está - quem conhece Lula sabe que ele prefere mil vezes uma verdade dura do que um silêncio cômodo.
Enquanto isso, os números não mentem: só no primeiro trimestre, as exportações brasileiras para a China cresceram como capim no verão. Já para os EUA... bem, melhor nem comentar. Parece que o Tio Sam anda com o bolso mais apertado ultimamente.