Vazamentos, mofo e risco: a realidade das 65 mil moradias precárias no RS
65 mil moradias precárias no RS: a triste realidade

Imagine acordar com pingos d'água caindo no rosto. Ou pisar em um chão úmido que já virou terreno fértil para mofo. Pois é, essa não é cena de filme catastrófico - é o dia a dia de milhares de gaúchos.

No Rio Grande do Sul, um número que dá frio na espinha: 65 mil domicílios estão em situação precária. E quando falamos "precário", não é exagero. São casas que mais parecem peneiras, com goteiras que teimam em aparecer mesmo sem chuva, forros que viraram lenda urbana e estruturas que desafiam as leis da física.

O retrato da vulnerabilidade

Conversei com dona Marli, 58 anos, que mora num desses "lar, doce lar" em Porto Alegre. "Quando chove, é festival", diz ela, apontando para os baldes estrategicamente posicionados. "Tenho até nome pra cada goteira: a persistente, a preguiçosa e a surpresa." O humor? Só pra não chorar.

Os problemas vão além do incômodo:

  • Umidade que vira convite para doenças respiratórias
  • Fios elétricos expostos - um perigo que não espera
  • Paredes que mais parecem queijo suíço

E o pior? Muitas famílias pagam aluguel por isso. Sim, você leu certo. Lugares que deveriam ser condenados viram "oportunidades" para quem não tem alternativa.

O ciclo sem fim

O arquiteto urbanista Carlos Brito explica: "É uma bola de neve. Sem condições dignas, as pessoas adoecem. Doentes não trabalham. Sem trabalho, não melhoram a moradia." E assim o trem-bala da vulnerabilidade segue, sem freios.

Alguns dados que doem:

  1. 37% dessas moradias não têm revestimento adequado
  2. Em 28%, a chuva entra como quer
  3. 15% apresentam risco iminente de desabamento

Enquanto isso, nos gabinetes climatizados, projetos de habitação popular engatinham. E as famílias? Continuam fazendo malabarismos - quando não verdadeiros milagres - para transformar espaços inóspitos em lar.

No fim das contas, como diria meu avô, "tá faltando vergonha na cara". Vergonha de permitir que brasileiros vivam assim, em pleno século XXI. Mas até lá, seguem os baldes, as gambiarras e a resistência de quem não tem outra escolha.