
Parece piada pronta, mas não é. Enquanto os números do atacado mostram quedas expressivas — algumas chegando a dois dígitos —, o brasileiro médio continua apertando o cinto no mercado e no posto de gasolina. Algo não está batendo, e a culpa não é só da velha conhecida "margem de lucro".
O que dizem os números frios
Dados do IBGE mostram que, nos últimos 12 meses, produtos como óleo de soja (-33%), carne bovina (-11%) e até mesmo o etanol (-15%) tiveram reduções significativas nos preços de atacado. Mas quem faz compras todo fim de semana sabe: a sensação no bolso é outra.
Onde está o gargalo?
Três fatores principais emperram essa transmissão de preços:
- Custos logísticos: o diesel ainda pesa no transporte (e no preço final)
- Estoque caro: muitos varejistas ainda estão vendendo produtos comprados a preços altos
- Demanda reprimida: com o consumidor mais cauteloso, as redes têm medo de reduzir margens
"É como tentar frear um navio petroleiro", explica o economista Marcelo Tavares, da FGV. "Os efeitos levam meses para chegar ao consumidor final, especialmente em setores com cadeias complexas."
Quando vem o alívio?
Especialistas projetam que, entre agosto e setembro, parte dessas quedas deve finalmente chegar às prateleiras. Mas com ressalvas:
"Nem todos os produtos vão refletir a queda total", alerta a consultora de varejo Ana Beatriz Costa. "Itens perecíveis, como carnes e hortifrúti, devem mostrar redução primeiro. Já os industrializados podem demorar mais."
E tem um detalhe que pouca gente nota: mesmo com preços menores no atacado, algumas redes estão reduzindo embalagens (aquela velha estratégia do "agora com 10% a menos") em vez de baixar preços de fato.
O caso dos combustíveis
Nas bombas, a situação é ainda mais curiosa. Enquanto o preço do barril cai no mercado internacional, os postos alegam que ainda estão queimando estoques caros — uma explicação que já dura seis meses.
"Tem posto que parece ter comprado petróleo na época das Cruzadas", brinca o motorista de aplicativo Carlos Alberto, 42 anos. "Todo mês falam que vai baixar, mas a gente só vê o preço subir."
A boa notícia? Analistas acreditam que, pressionados pela concorrência e por consumidores mais informados, varejistas terão que repassar parte das quedas até o final do terceiro trimestre.