
Eis uma daquelas notícias que fazem o bolso do trabalhador se encolher: os juros do empréstimo consignado para o setor privado bateram a casa dos 3,79% ao mês em junho. Um valor que, convenhamos, não é nada amigável — especialmente quando comparado às taxas mais suaves cobradas de aposentados e servidores públicos.
Enquanto isso, no mesmo período, os beneficiários do INSS e funcionários públicos pagaram juros médios de apenas 1,97% ao mês. Quase metade do valor! A diferença é tão gritante que chega a doer — e levanta a questão: por que essa disparidade?
O abismo entre os juros
Os números, divulgados pelo Banco Central, mostram um cenário que muitos já desconfiavam. O crédito consignado — aquele descontado direto no salário ou benefício — está longe de ser igual para todos. Dependendo de onde você trabalha, o custo pode ser quase o dobro.
- Setor privado: 3,79% ao mês (45,5% ao ano)
- Aposentados INSS: 1,97% ao mês (26,4% ao ano)
- Servidores públicos: 1,89% ao mês (25,2% ao ano)
Não é difícil entender o motivo. Bancos enxergam menos risco em descontar diretamente de benefícios governamentais ou salários de funcionários públicos — que raramente atrasam. Já no setor privado, com sua volatilidade, as instituições se protegem cobrando mais.
Efeito dominó no bolso do brasileiro
Com a Selic em queda (estava em 10,5% ao ano em junho), era de se esperar que os juros acompanhassem. Mas parece que essa lógica não se aplica igualmente a todos os produtos — e muito menos a todos os trabalhadores.
"É como se houvesse dois Brasis dentro do mesmo mercado de crédito", comenta um economista que prefere não se identificar. Enquanto uns conseguem taxas relativamente civilizadas, outros precisam enfrentar números que beiram o abusivo.
Para piorar, essa disparidade ocorre justamente quando mais brasileiros buscam o consignado como alternativa aos juros estratosféricos do crédito pessoal comum. Ironia cruel: o "refúgio" acaba sendo menos acessível para quem mais precisa.