
Parece que o diabo está nos detalhes — e os exportadores brasileiros sabem disso melhor do que ninguém. A tão falada lista de exceções às tarifas de importação impostas por Donald Trump, que muitos comemoraram como uma "vitória diplomática" do governo Lula, está longe de ser o alívio que se esperava.
Quem trabalha no setor há décadas — e já viu de tudo nesse pingue-pongue de políticas comerciais — não está batendo palmas. "É migalhas", resmunga um veterano da indústria de aço, que prefere não se identificar. "Dão com uma mão e tiram com três."
O que realmente mudou?
Vamos aos números frios: dos US$ 14 bilhões em produtos brasileiros afetados pelas tarifas, apenas US$ 10 milhões — sim, você leu certo — conseguiram escapar. É como oferecer um copo d'água para quem está no meio do deserto. A lista inclui itens nichados como certos tipos de tubos de aço e... bom, quase nada mais relevante.
E tem mais: as isenções são temporárias. "Até dezembro", avisa um comunicado do USTR (Escritório do Representante Comercial dos EUA). Depois? Voltamos à estaca zero. "É como se preparassem um bolo maravilhoso, mas só nos deixassem lamber a colher", brinca — sem graça — uma executiva do agronegócio.
O jogo político por trás das cifras
Washington não faz nada por acaso. Especialistas ouvidos — aqueles que realmente entendem do riscado — apontam que as isenções miraram setores onde os americanos precisam dos produtos brasileiros. "Não foi concessão, foi necessidade", crava um analista, mastigando as palavras.
Enquanto isso, o Itamaraty tenta vender a narrativa de "diálogo produtivo". Mas nos corredores das associações industriais, o clima é de "festa de aniversário sem bolo". O setor de alumínio, por exemplo, continua completamente de fora — e isso dói.
E agora, José?
O Brasil tem opções? Teoricamente sim, mas... (sempre tem um mas):
- Recorrer à OMC? Demoraria anos e o jogo já teria mudado
- Negociar bilateralmente? Trump não é exatamente o tipo que cede
- Diversificar mercados? Boa sorte competindo com China e Índia
No fim das contas, o que restou foi aquele gosto amargo de "quase". Quase um acordo, quase uma vitória, quase um alívio. E no mundo dos negócios internacionais, "quase" é sinônimo de nada.
Como diria meu avô, mineiro raiz: "Quando a esmola é demais, o santo desconfia". E os exportadores, coitados, estão desconfiando pra valer.