
Franca, a capital do sapato, tá virando noites. Os operários das fábricas, que normalmente encerram o expediente às 18h, agora tão fazendo hora extra até as 22h — e em alguns casos, madrugada adentro. Tudo por causa de um prazo apertado: entregar encomendas nos Estados Unidos antes que novas tarifas comerciais entrem em vigor.
"É correria pra valer", conta Marcos, supervisor de produção numa fábrica da região (que preferiu não citar o nome). "A gente tá produzindo 30% a mais do que o normal, com a mesma equipe. Até o café da tarde virou jantar rápido no refeitório."
O que está em jogo?
Os EUA anunciaram aumento de impostos para calçados brasileiros a partir de agosto — algo entre 15% e 25%, dependendo do modelo. Para quem exporta, isso significa ou repassar o custo (e arriscar perder clientes) ou engolir a diferença (e ver o lucro evaporar).
Franca, responsável por 80% das exportações de calçados masculinos do país, não podia ficar parada:
- Linhas de produção ampliadas em 3 turnos
- Transportadoras contratadas para agilizar o frete
- Até os fornecedores de matéria-prima entraram no ritmo acelerado
"Tem cliente pedindo antecipação de entrega em cima da hora", explica a empresária Luana Mendes, dona de uma média indústria local. "A gente faz malabarismo — cancela folgas, remarca férias, o que for preciso. Melhor trabalhar dobrado agora do que ficar com estoque parado depois."
E depois do prazo?
Especialistas temem que, mesmo com o esforço hercúleo, parte da produção fique de fora. "Quando as tarifas baterem, teremos que repensar estratégias", admite o economista Carlos Brito. "Talvez buscar novos mercados na Ásia ou investir ainda mais em qualidade premium."
Enquanto isso, nas ruas de Franca, o movimento é outro: caminhões carregados de caixas fazem fila nos portões das fábricas, operários com olheiras profundas tomam cafezinhos reforçados, e os donos de restaurantes comemoram — o movimento noturno nunca foi tão bom.