
Não é brincadeira: o café, aquele que aquece corações e movimenta bilhões, está passando por um momento delicado. Só na última semana, o preço da saca despencou 3,48% — um tombo que deixou muitos produtores do interior paulista de cabelo em pé.
Segundo dados do mercado, a saca de 60 kg, que vinha resistindo como um touro teimoso, caiu para R$ 1.027,50. Parece pouco? Para quem vive do grão, é como levar um chute no estômago. "A gente se prepara para tudo, menos para ver o suor da terra valer menos do que ontem", desabafa um agricultor de Ribeirão Preto, que prefere não se identificar.
Por Que o Café Está Mais Barato?
Os especialistas apontam três fatores que jogaram água (fria) no café:
- Colheita recorde: A safra deste ano veio com tudo — talvez até demais. Quando a oferta sobe rápido e a demanda não acompanha, o preço cai feito bêbado em ladeira.
- Dólar oscilando: Com a moeda americana dançando menos forró e mais samba-canção, produtos de exportação como o café perdem parte do impulso.
- Estoque cheio: Os armazéns estão abarrotados, e compradores internacionais sabem disso. Quem tem espaço para esperar, segura o cartão de crédito.
E tem mais: o clima, aquele velho parceiro imprevisível da agricultura, ajudou — mas talvez tenha ajudado demais. Chuvas regulares no cinturão cafeeiro garantiram grãos de qualidade, porém em quantidade que o mercado ainda não digeriu.
E Agora, José?
Para os produtores, a conta não fecha fácil. "Ou segura o prejuízo vendendo agora, ou aposta que a situação melhora e arrisca estocar", explica um corretor de commodities, enquanto ajusta o chapéu contra o sol do meio-dia. Alguns já falam em diversificar — quem sabe investir em cafés especiais ou até em outras culturas.
Mas calma, nem tudo está perdido. Analistas lembram que o mercado de café é como maré: sobe e desce. Com a alta temporada de consumo no hemisfério norte se aproximando (sim, gringo também precisa de cafeína no inverno), há esperança de recuperação.
Enquanto isso, no interior de São Paulo, o cheiro de café fresco continua pairando no ar — só que agora, com um gosto um pouco mais amargo.