
Imagine colher toneladas de soja e milho — um verdadeiro mar de grãos — e não ter onde guardar. Pois é, essa realidade está batendo na porteira dos produtores de Mato Grosso, onde a falta de evolução na capacidade de armazenagem virou um problema crônico.
Dados recentes mostram que o estado — maior produtor agrícola do país — tem capacidade para estocar apenas 60% da safra atual. O resto? Fica exposto a intempéries, pragas e prejuízos. "É como encher uma banheira com a torneira aberta e sem ralo", compara um técnico da Aprosoja, que prefere não se identificar.
Números que assustam
Enquanto a produção de grãos em MT cresceu 38% na última década, os silos avançaram míseros 12%. Resultado:
- Déficit atual: 28 milhões de toneladas
- Custo extra com armazenagem temporária: R$ 15/saca
- Perdas médias: 3% da safra (equivalente a 1 milhão de toneladas)
"Tá virando rotina ver caminhões fazendo fila nas estradas rurais", conta o produtor João da Silva, de Sorriso. "Quando chove, o prejuízo é certo."
Efeito dominó
O gargalo logístico — que já era ruim — piora com:
- Atrasos nos leilões de ferrovias
- Frota envelhecida de caminhões
- Portos distantes
Especialistas alertam: sem investimentos urgentes, Mato Grosso pode perder seu status de celeiro do mundo. "É inacreditável que um estado tão rico conviva com problemas básicos do século passado", dispara a economista Carla Mendes.
Enquanto isso, os produtores seguem na corda bamba — entre a expectativa de boa safra e o medo de não conseguir escoá-la. Afinal, de que adianta plantar se não dá pra guardar?