
Parece que o velho ditado "quando a América espirra, o mundo pega pneumonia" ganhou uma versão 2.0 — e dessa vez, os gaúchos estão na linha de frente. O setor madeireiro do Rio Grande do Sul acaba de levar um golpe duro com as novas tarifas de exportação impostas pelos Estados Unidos, que entraram em vigor na semana passada.
Os números são alarmantes: uma alta de 37% nas taxas para produtos de madeira brasileira. "É como tentar vender picolé no inverno", desabafa João Pedro Schmidt, dono de uma serraria em Santa Maria, enquanto mostra uma pilha de toras que deveriam estar a caminho de Miami.
O preço do protecionismo
Não é segredo que os EUA andam fechando as portas — ou melhor, aumentando o pedágio — para produtos estrangeiros. Mas dessa vez, o tiro saiu pela culatra:
- Mais de 120 empresas gaúchas diretamente impactadas
- Estimativa de perdas mensais acima de R$ 80 milhões
- Cerca de 2.300 empregos em risco até o final do ano
E o pior? Ninguém vê luz no fim do túnel. "Já estamos repensando investimentos", admite a gerente comercial da Madeireira Gonçalves, que há 15 anos exporta para a Flórida.
Efeito dominó
O problema vai além dos portos. Com menos demanda internacional:
- Preços internos despencaram 22% em média
- Produtores rurais reduzem replantio de árvores
- Caminhoneiros já sentem a queda no transporte
— É uma bola de neve — comenta o economista Luís Fernando Barcelos, especialista em comércio exterior. — E no inverno gaúcho, neve derrete devagar.
Enquanto isso, em Brasília, o governo promete "ações diplomáticas", mas os empresários torcem o nariz. "Diplomacia não paga conta", resmunga um exportador que preferiu não se identificar.