CADE dá sinal verde para Marfrig engolir a BRF: e agora, mercado?
CADE aprova fusão da Marfrig com a BRF sem condições

Pois é, o tabuleiro corporativo brasileiro acaba de ser sacudido. E como. Numa decisão que não surpreendeu totalmente os mais atentos, mas que ainda assim causa um frisson danado, o CADE – aquele conselho que fica de olho pra ninguém engolir o mercado inteiro – deu seu aval. Sem pedir nada em troca. A Marfrig pode, sim, incorporar a BRF e criar uma das maiores players de proteína animal do planeta.

Pensa na encrenca que é juntar duas dessas. A Marfrig, conhecida por sua força na carne bovina, e a BRF, um império das aves e dos processados – think Sadia, Perdigão. A promessa é de uma sinergia de fazer inveja, com estimativas de economia na casa dos bilhões. Mas, claro, sempre tem um mas.

O que o CADE analisou (e o que ele ignorou)

O relator do caso, o conselheiro Gustavo Augusto Freitas de Lima, não viu riscos. Ele basicamente argumentou que elas não são concorrentes diretas. A Marfrig manda na boiada; a BRF, no frango e nos nuggets. Mercados diferentes, problemas diferentes. A tal 'sobreposição' seria mínima, quase irrelevante. E mesmo onde elas se encontram – no varejo, por exemplo – a concorrência ainda é feroz, com JBS e outras gigantes no páreo.

O conselho todo comprou a ideia. Unânime. Nada de vender ativos, nada de abrir mão de marcas. Foi um 'sim' redondo, um sinal verde para seguir em frente com tudo.

E os acionistas? E o mercado?

Agora a bola está com os acionistas da BRF. Eles é que têm a palavra final. A proposta da Marfrig é trocar ações – cada ação da BRF valeria 0.2500 ações da Marfrig. Parece pouco? A discussão sobre se é uma oferta justa ou não vai esquentar os grupos de investimento e os cafezinhos das mesas de operação.

E não para por aí. A operação ainda precisa do aval de outros reguladores. A gente sabe como é: o que um libera, outro pode complicar. Fica o suspense no ar.

Se tudo der certo, no final das contas, nasce um colosso. Uma empresa com receita combinada na casa das centenas de bilhões, presença global dos pampas aos mercados mais exigentes da Ásia, e um poder de barganha que pode, sim, dar calafrios em alguns concorrentes.

O futuro dirá se a jogada foi de mestre ou se criou um gigante complexo demais para se governar. Por enquanto, o mercado respira aliviado – e um pouco apreensivo – com mais uma consolidação histórica no agronegócio tupiniquim.