Petrópolis: menos de 40% dos recursos para prevenção de desastres foram usados
Petrópolis aplica menos de 40% em prevenção de desastres

As fortes chuvas que atingiram o Centro Histórico de Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, na última quarta-feira (17), expuseram mais do que apenas alagamentos. Elas revelaram um grave problema na gestão de recursos destinados a evitar tragédias. Um levantamento exclusivo da GloboNews, com base no Portal da Transparência da Prefeitura, aponta que o município executou menos da metade dos valores disponíveis para ações de prevenção de desastres nos últimos dois anos.

Orçamento para prevenção fica em segundo plano

Enquanto os gastos com resposta a emergências ultrapassaram a marca de 90%, os investimentos em medidas preventivas, como obras de contenção de encostas e sistemas de drenagem, ficaram abaixo de 40%. O episódio da última semana, que deixou carros arrastados e uma pessoa desaparecida, reacendeu o debate sobre a necessidade de priorizar investimentos que reduzam os riscos antes que as chuvas cheguem.

Os números são claros e preocupantes. Em 2025, da verba de R$ 1,4 milhão reservada para "Drenagem, Desassoreamento e Limpeza de Rios e Córregos", apenas R$ 480 mil (32%) foram efetivamente gastos. Em 2024, a execução foi um pouco melhor, mas ainda baixa: 39%, com R$ 635 mil utilizados de um total de R$ 1,6 milhão.

A situação é ainda mais crítica no programa "Obras de Contenção de Encosta". Em 2025, apenas 2% dos R$ 7,2 milhões disponíveis foram aplicados, totalizando um gasto irrisório de R$ 127 mil. A ação "Inovação Tecnológica para Monitoramento Contínuo de Defesa Civil" também teve execução modesta: 39% em 2025 e 47% no ano anterior.

Resposta emergencial consome a maior parte dos recursos

Em contraste gritante, as verbas para lidar com as consequências das chuvas foram quase totalmente utilizadas. A ação "Preparação e atendimento de resposta rápida em Situações Excepcionais" teve 70% de execução em 2025 e 87% em 2024. Já os "Serviços de Saneamento e Limpeza Pública" consumiram 92% do orçamento neste ano e 96% no anterior.

Um ponto fora da curva foi o programa "Revisão de planos em habitação e áreas de risco", que em 2024 teve execução total, com os R$ 5,5 milhões reservados sendo integralmente gastos. Curiosamente, essa ação não aparece no orçamento municipal para 2025.

Prefeitura rebate e cita investimentos em andamento

Em nota, a Prefeitura de Petrópolis afirmou que tem ampliado os investimentos em prevenção com recursos próprios e por meio de parcerias com os governos estadual e federal. A administração municipal informou que, apenas em 2025, foram iniciadas ou concluídas 30 obras de contenção e drenagem, representando um investimento total de R$ 34,7 milhões.

Desse montante, R$ 16,4 milhões foram empenhados neste ano. Entre as obras citadas estão intervenções na Comunidade do Contorno, no Morro dos Anjos (Caxambu) e no Caminho do Céu (Nogueira), além de obras já concluídas no Morro da Oficina, que agora entram na fase de reflorestamento.

A cidade também foi contemplada com quase R$ 70 milhões do PAC Seleções 2025 para projetos em diversas áreas, incluindo Floresta, Quitandinha e Centro. Além disso, a Prefeitura prepara um projeto de macrodrenagem para a bacia do Rio Quitandinha, estimado em R$ 100 milhões.

Na área de tecnologia, foi adquirido um radar de banda X por R$ 7 milhões para monitoramento climático. A gestão municipal também mantém uma parceria com o Governo do Estado para limpeza e dragagem de rios, com mais de 30 localidades atendidas desde janeiro, o que, segundo a Prefeitura, desonera os cofres públicos municipais.

Especialistas, no entanto, continuam a alertar que a lógica do gasto público precisa mudar. A priorização clara e massiva de recursos para a resposta emergencial, em detrimento de investimentos sólidos em prevenção, mantém Petrópolis e sua população em um ciclo perigoso e repetitivo de risco e tragédia sempre que o volume de chuvas aumenta na Região Serrana.