
Quem passa por Limeira nesta época do ano sente no ar algo diferente — um cheiro cítrico que mistura nostalgia com orgulho. A cidade, que já foi o coração pulsante da citricultura nacional, revive suas raízes numa celebração que vai muito além do suco fresco.
E não é exagero: a Festa da Laranja deste ano transformou o centro histórico num verdadeiro museu a céu aberto. De repente, aquelas ruas de paralelepípedos que viram o Brasil crescer ganham vida com cores, sabores e memórias.
Raízes que viraram tradição
"Minha avó contava que os trens saíam carregados de caixas até o porto de Santos", lembra Dona Marta, 78 anos, enquanto ajusta a barraca de doces caseiros. Suas mãos calejadas — que já descascaram mais laranjas do que consegue contar — preparam bolos com receitas que atravessaram gerações.
O evento, que começou modesto nos anos 1980, hoje atrai visitantes de vários estados. E não é só pela fruta:
- Feira de artesanato com peças feitas de sementes e cascas
- Oficinas que ensinam desde poda até pintura com pigmentos naturais
- Apresentações de violeiros que cantam a epopeia dos colonos
Por falar em cantoria, o palco principal trouxe uma surpresa: um musical contando como imigrantes italianos e escravos libertos moldaram juntos essa história. Arrepiava ver adolescentes — muitos de fones de ouvido e celulares — parados para assistir.
Economia que renasce
Se antes as fazendas dominavam a paisagem, hoje são os pequenos produtores que mantêm viva a chama. João Ricardo, dono de um sítio familiar, explica enquanto serve caldo de cana com laranja: "A gente não compete com o suco industrializado. Vendemos experiência".
E parece funcionar — suas geleias artesanais com pimenta rosa esgotaram antes do meio-dia. "Até japonês já veio filmar meu processo", ri, mostrando orgulhoso o selo "Feito em Limeira".
Para quem pensa que é só nostalgia, os números impressionam: só no primeiro dia, mais de 15 mil pessoas circularam pelos estandes. E olha que a previsão era de chuva!
Futuro com gosto de passado
O prefeito, em discurso descontraído, brincou: "Tem cidade que tem estádio de futebol. Nós temos o maior pomar histórico do país". E anunciou um projeto audacioso — transformar antigos galpões de classificação de frutas em centro cultural.
Enquanto isso, nas ruas, crianças corriam com balões em forma de laranja. Velhos agricultores assentiam, emocionados, ao ver suas histórias sendo contadas. E turistas descobriam, entre uma fatia de bolo e outra, que há muito mais nessa fruta do que vitamina C.
No final do dia, quando as luzes se acendem sobre o coreto centenário, fica claro: Limeira não está apenas celebrando seu passado. Está plantando, com cuidado, as sementes do que ainda vai crescer.