
Não é exagero dizer que Salvador respira cultura afro-brasileira — e no último fim de semana, a cidade pulou no ritmo do Festival Negritudes, um evento que mistura tradição, modernidade e muita, mas muita energia. Imagine ruas coloridas, tambores ecoando e cheiros de acarajé no ar... Isso é só o começo.
Mais que festa: um manifesto cultural
O Pelourinho, sempre ele, virou o coração da celebração. De repente, aquelas ladeiras históricas — que já viram de tudo — ganharam vida com performances que contam histórias. Histórias de resistência, de orgulho, de identidade. "É como se a cidade toda virasse um grande terreiro", comentou uma senhora, equilibrando uma bandeja de cocada na cabeça enquanto dançava.
E olha que interessante: entre um show e outro, rodas de conversa esquentavam os debates. Temas como representatividade, empoderamento negro e políticas culturais dividiram espaço com oficinas de turbantes e capoeira. Nada daqueles eventos superficiais — aqui, cada atividade tinha gosto de propósito.
O cardápio que é um espetáculo à parte
Ah, a comida! Se você acha que conhece a culinária baiana, precisava ver as barracas reinventando clássicos. Moqueca com toque contemporâneo, acarajés gourmet (sim, isso existe!) e até sorvetes de dendê — uma ousadia que deixou os puristas de cabelo em pé, mas conquistou os foodies de plantão.
- Show de Margareth Menezes? Arrasou, como sempre.
- Batalha de poesia no Largo do Terreiro de Jesus? Arrepiava até quem passava sem querer.
- Workshop de percussão para crianças? O futuro agradece.
E sabe o que mais chamou atenção? A mistura geracional. Avós ensinando passos de samba-de-roda para netos com fones de ouvido. Jovens discutindo filosofia africana enquanto fotografavam para o Instagram. Isso é cultura viva, sem vitrine, sem filtro.
Por trás dos tambores
Conversando com os organizadores, descobrimos um detalhe curioso: o festival quase não aconteceu por falta de patrocínio. "A gente sabe que cultura negra vende, mas sustentar projetos assim ainda é um parto", desabafou uma das coordenadoras, entre um problema de som e outro. Mas no final, como sempre, a comunidade se juntou — e o show não só aconteceu como superou expectativas.
Para o ano que vem, prometem ampliar: mais dias, mais bairros envolvidos, e quem sabe até uma transmissão online para quem não pode vir. Porque Salvador pode ser o palco principal, mas essa história — essa energia — é de todo mundo que se reconhece nessa imensa teia chamada diáspora africana.
Uma última cena que ficou na memória: ao final do evento, um grupo de adolescentes começou espontaneamente a cantar "Ilê Pérola Negra". Aos poucos, turistas, moradores, vendedores ambulantes foram se juntando. Até um policial — sim, um policial! — bateu palmas no ritmo. Coisas que só acontecem quando a cultura verdadeiramente toma as ruas.