
Numa discussão que mistura nostalgia televisiva e crítica social, Tais Araújo soltou o verbo sobre uma figura icônica das telinhas. Quem diria que Odete Roitman, aquela personagem que metade do Brasil amava odiar nos anos 80, ainda daria pano pra manga em 2023?
A atriz — sempre afiada nas análises — questionou a visão romantizada que alguns têm da "fada sensata" de Vale Tudo. "Tem gente que acha ela um modelo? Sério mesmo?", disparou, com aquela mistura de incredulidade e bom humor que só ela tem.
Entre memória afetiva e leitura crítica
O debate começou quando um internauta comparou Odete a uma espécie de conselheira moral. Tais, que nunca foi de ficar calada, rebateu: "Precisamos rever essa memória afetiva com olhos de hoje". E tem razão — será que estamos colocando óculos cor-de-rosa em personagens que, na verdade, representavam tudo o que combatemos hoje?
- Odete manipulava maridos como peças de xadrez
- Usava a falsa moralidade como arma
- Personificava o pior do machismo internalizado
Mas cá entre nós — que vilã deliciosa, não? Aí está o paradoxo. Regina Duarte deu vida a uma figura tão complexa que, décadas depois, ainda divide opiniões. Tais, com seu faro para debates necessários, cutucou essa ferida com elegância.
Novela como espelho social
O mais interessante? Essa discussão revela como consumimos cultura. "Assistimos com os olhos de outra época", reflete a atriz. O que antes parecia apenas entretenimento, hoje escancara contradições sociais. E não é exatamente pra isso que serve a boa ficção?
Enquanto alguns fãs defendem Odete como "mulher à frente do tempo", Tais lembra: "Antes de tudo, ela era uma construção masculina sobre o feminino". Tiro certeiro. Nas entrelinhas, a crítica vai além — questiona como a indústria cultural moldou (e ainda molda) estereótipos femininos.
No final das contas, o recado tá dado: rever velhas novelas pode ser um exercício delicioso... e desconfortável. Como tudo que realmente importa, né?