
O coração do Rio de Janeiro bateu mais forte — e mais triste — nesta quinta-feira. O Theatro Municipal, aquele colosso de mármore que já viu de tudo, abriu suas portas para uma despedida que ninguém queria dar. Preta Gil, a voz que ecoou gerações, recebeu seu último aplauso.
Não foi um adeus qualquer. A fila começou a se formar antes do sol nascer, gente de todo canto — alguns com camisetas desbotadas de shows antigos, outros com flores tão frescas que ainda tinham orvalho. Parecia que a cidade inteira resolveu parar por um dia.
Um palco de emoções
Dentro, o clima era... complicado de descrever. Tinha choro, claro, mas também risos contando histórias que só quem viveu sabe. Mariene de Castro, com a voz embargada, cantou "Canto das Três Raças" — música que Preta amava — e por um instante, todo mundo sentiu que ela estava ali.
Gilberto Gil, pé no chão como sempre, mas com os olhos vermelhos, recebia cada abraço como se fosse um pedaço da filha. "Ela viveu com a intensidade de mil vidas", disse pra alguém, e você podia jurar que o ar ficou mais pesado depois disso.
Os detalhes que doem
- O caixão branco, quase prateado, cercado por flores roxas — cor que ela adorava
- Fotos de todas as fases: a menina do sorriso largo, a artista ousada, a militante ferrenha
- No fundo, um vídeo mostrava cenas de shows onde ela parecia invencível
Do lado de fora, um grupo de fãs começou a cantar "Sina" do Djavan. Aí você entende: algumas pessoas não morrem, elas viram canção que o povo carrega na garganta.
O sol já ia embora quando os últimos visitantes saíram. O Theatro, aquele velho senhor de cartola, parecia mais silencioso que o normal. Mas se prestar atenção, dá pra ouvir um eco — meio desafinado, cheio de vida — que não quer se calar.