Preta Gil é velada no Theatro Municipal do Rio em cerimônia emocionante; cremação acontece após cortejo pelas ruas
Preta Gil é velada no Theatro Municipal do Rio

O Rio de Janeiro parou — ou melhor, cantou — para se despedir de Preta Gil nesta sexta-feira. O Theatro Municipal, aquele colosso dourado da Cinelândia, abrigou um velório que mais parecia um show intimista. Gente de todo tipo, dos fãs de primeira hora aos curiosos que só queriam um pedaço da história, formaram filas que dobravam quarteirões.

Não era pra menos. A cena lá dentro? Digníssima. O caixão branco, simples mas cheio de personalidade — assim como ela — cercado por toneladas de flores tropicais. Alguém teve a sacada genial de colocar um retrato gigante da diva sorridente atrás do palco. Parecia que ela estava prestes a começar mais um show.

O adeus nas ruas

Quando o relógio bateu meio-dia, começou o que ninguém vai esquecer tão cedo: o cortejo. O carro funerário avançou devagar, tipo samba no pé, pela Av. Rio Branco. De repente, alguém soltou um "Preta!" no meio da multidão. Aí virou coral. Todo mundo cantando "Só vou deixar esse mundo quando o samba acabar" — ironia do destino ou profecia autorrealizável?

Na esquina com a Presidente Vargas, um grupo de percussionistas apareceu do nada. Ninguém sabe quem chamou, mas fazia todo o sentido. Os tambores conversavam com as palmas da galera, enquanto o cheiro de jasmim e cerveja gelada (ela adorava) tomava conta do ar.

Último ato no Carmo

O Memorial do Carmo recebeu o corpo por volta das 15h. Dizem que a temperatura lá dentro subiu quando a família chegou — e não era só do forno crematório. Gilberto Gil, aquele monumento vivo da MPB, ficou mais de meia hora abraçado no caixão antes do adeus final. Quem estava perto jurou ter visto lágrimas escorrendo pelo violão imaginário que ele carregava nos ombros.

"Ela sempre disse que queria ser cinza jogada no mar", contou uma prima enquanto os últimos acordes de "Minha voz, minha vida" tocavam no sistema de som. A cerimônia terminou com um detalhe que Preta teria amado: pétalas de rosas vermelhas caindo do teto, como chuva de Carnaval.